'Excesso' de republicanos mina debates
Eleitores americanos podem ser prejudicados pela profusão de pré-candidatos em arenas de discussões públicas
Analistas sugerem que cada participante possa gastar seu tempo de fala como ocorre em um jogo de xadrez
Uma das mais bem-sucedidas e disseminadas instituições da democracia americana, o debate eleitoral, está em xeque neste ano por duas razões: a profusão de pré-candidatos à Presidência dos EUA pelo Partido Republicano e uma ação legal contra a forma que se realizam.
No próximo dia 3 de agosto, começará a temporada de debates do pleito de 2016.
O jornal "New Hampshire Union Leader" e a rede de TV pública C-Span vão receber todos os aspirantes presidenciais republicanos (oficialmente são 16). Nunca houve um programa desse tipo com tantos personagens nos EUA.
Três dias depois, a rede de TV Fox fará o seu primeiro debate, com os dez que estiverem mais bem colocados na mais recente pesquisa de intenção de voto divulgada.
A quase impossibilidade de se ter uma troca de opiniões minimamente útil para o eleitor com a presença de 16 políticos pode tornar os debates –que já vêm sendo questionados há algum tempo pela forma como candidatos se esquivam de perguntas incômodas e se recusam a desenvolver um diálogo construtivo– alvo de mais críticas e objeto de ainda menor audiência.
O critério de limitar o número de presentes pelas pesquisas de intenção de voto é um dos pontos criticados por grupos que entraram na Justiça contra a entidade que desde 1988 organiza os debates da fase final da eleição, a Comissão sobre Debates Presidenciais (CPD, na sigla em inglês), dirigida pelos partidos Democrata e Republicano.
A CPD só dá acesso aos seus debates a candidatos que tenham mais de 15% das intenções de voto nas pesquisas. No entanto, um grupo de entidades libertárias e pequenos partidos políticos, como o Verde, dizem que esse dispositivo é antidemocrático.
Eles citam recentes falhas de institutos de pesquisa de opinião pública em importantes eleições pelo mundo, inclusive a britânica deste ano, para argumentar que esse critério é imperfeito e arbitrário.
Também dizem que, como os candidatos dos demais partidos (além do Democrata e Republicano) não participam de primárias, eles não têm chance de tornar suas plataformas conhecidas da maioria do eleitorado.
PRECEDENTE HISTÓRICO
Na história recente, só em uma eleição, a de 1992, houve debates com candidatos além dos nomes dos dois maiores partidos (foi o independente Ross Perot, que disputou a Presidência com o republicano George H. Bush e o democrata Bill Clinton, que foi o eleito).
Porém, se todos os candidatos forem convidados para debates (em 2012 eles foram 13 no total), volta-se à questão de como organizar um programa em que todos possam falar e interagir entre si com algum proveito para o eleitor, como se está vendo no campo dos republicanos neste ano.
Mesmo que se resolva o problema de limitar por critérios consensuais a dois ou três o número de candidatos nos debates, mantém-se a crítica ao modelo atual.
SUGESTÃO
Um grupo de estudiosos, o Grupo de Trabalho Annenberg sobre Reforma dos Debates de Campanha Presidencial, apresentou um relatório com sugestões, que dificilmente serão aceitas pela CPD.
Entre elas, uma das mais interessantes é a de que, em vez de se dar o mesmo tempo para cada candidato responder a perguntas, utilize-se um sistema similar ao dos jogos de xadrez, em que cada um tem um total de minutos para gastar como quiser. Quando ele esgota o seu limite, não pode mais falar.
O papel do moderador e quem deve exercer essa função também são temas debatidos pelo Annenberg.
Finalmente, entre as muitas propostas para os debates desta temporada eleitoral, tem recebido destaque a do pré-candidato democrata Bernie Sanders, que deseja que, na fase das primárias, eles misturem aspirantes dos dois partidos em vez de se restringirem aos de uma só agremiação partidária.
Os organizadores dos primeiros debates eleitorais da história dos EUA, em 1858, entre Abraham Lincoln e Stephen A. Douglas, candidatos ao Senado por Illinois, provavelmente não imaginaram que sua criação fosse mudar tanto.