Kerry pede democracia em Cuba durante reabertura de embaixada
Secretário acompanha hasteamento da bandeira americana em Havana depois de 54 anos
Após cobrar liberdades, ele ouviu do chanceler cubano que o regime se preocupa com direitos humanos nos EUA
O que parecia impossível até alguns meses atrás tornou-se realidade nesta sexta (14), quando a bandeira dos EUA voltou a tremular em Cuba. Numa cerimônia marcada pelo tom emotivo, mas também pelas diferenças ideológicas, o secretário de Estado americano, John Kerry, defendeu a democratização de Cuba e a realização de eleições livres no país.
Diante do Malecón, famoso calçadão da orla de Havana, a embaixada dos EUA foi cercada por centenas que acompanharam o momento histórico sob sol forte e farta dose de nostalgia.
Enormes bandeiras de Cuba cobriam alguns dos prédios ao redor. Mas as atenções estavam voltadas para a bandeira americana dobrada em formato de triângulo nas mãos de James Tracy, 75.
Ao lado de Larry Morris e Michael East, ele foi um dos três fuzileiros navais americanos responsáveis por baixar a bandeira americana em 1961, quando a embaixada foi fechada. Os três foram convidados de honra da cerimônia e realizaram um sonho de cinco décadas, passando a bandeira a fuzileiros jovens.
"Larry, Mike e Jim cumpriram sua missão, mas também fizeram uma promessa ousada, de voltar a Havana e hastear a bandeira novamente", disse Kerry. "Ninguém poderia imaginar como esse momento estava distante."
CRÍTICAS RECÍPROCAS
Primeiro secretário de Estado americano a visitar Cuba desde 1945, Kerry misturou em seu discurso momentos de carinho aos cubanos, como quando disse em espanhol que os americanos lhes querem bem, e outros mais críticos, ao criticar veladamente a ditadura castrista.
"Continuamos convencidos de que a população de Cuba estaria mais bem servida por uma democracia genuína, em que as pessoas são livres para escolher seus líderes, expressar ideias e praticar sua fé", afirmou Kerry.
Num aparente esforço para afastar os temores de intervencionismo, ele ressaltou, porém, que cabe ao povo cubano decidir seu destino. "Não há o que temer", afirmou, em espanhol.
O troco viria pouco depois, quando o secretário de Estado americano participou de uma entrevista ao lado de Bruno Rodríguez, o chanceler cubano. Respondendo ao comentário de Kerry em defesa de democracia em Cuba, Rodríguez disse que seu país está disposto a discutir qualquer tópico, desde que "em condições de igualdade".
"Nós também temos preocupação com os direitos humanos nos EUA", disse o chanceler. "Cuba não é um país que tem discriminação racial ou brutalidade policial, nem pratica tortura em um território sob sua jurisdição."
Aparentemente, uma referência à prisão militar americana na baía de Guantánamo, em Cuba, território controlado pelos EUA desde 1903 e que Havana quer de volta.
Na curta visita de Kerry, planejada para durar cerca de 12 horas, ele tinha na agenda um encontro com dissidentes e artistas e ainda teve tempo de caminhar pela antiga parte da cidade.
No setor mais turístico, Kerry virou atração, posando para fotos e batendo papo com comerciantes. "É uma honra que ele tenha decidido passear por nossas ruas", disse à agência Associated Press o comerciante Rafael Lezcano, enquanto fotografava Kerry com seu celular.