Para Brasil, crise entre vizinhos não precisa de mediador
Governo brasileiro considera que impasse entre Colômbia e Venezuela deve ser resolvido com diálogo bilateral
Chanceleres anunciam criação de plano para segurança na fronteira, mas não há acordo sobre a sua reabertura
O governo brasileiro considera a crise na fronteira entre Venezuela e Colômbia uma questão bilateral, que deve ser resolvida com diálogo entre os dois países –e não com a intermediação de terceiros países ou da Unasul.
A avaliação do governo brasileiro, segundo a Folha apurou, é a de que a antecipação da reunião entre as chanceleres María Ángela Holguín (Colômbia) e Delcy Rodríguez (Venezuela), inicialmente prevista para 14 de setembro mas realizada nesta quarta (26) em Cartagena, demonstra boa vontade dos governos em encontrar uma solução diplomática para o impasse.
Ao fim da reunião, as ministras anunciaram que as pastas de Defesa dos países vão se reunir nos próximos dias para elaborar um plano conjunto para a segurança da região de divisa. No entanto, não houve acordo sobre a reabertura da fronteira.
Na última semana, o governo de Nicolás Maduro fechou postos fronteiriços, decretou estado de exceção na região e deportou mais de 1.100 colombianos que viviam na Venezuela.
Segundo Holguín, a reunião com Rodríguez foi "positiva, franca e realista", e foram discutidos problemas que "afetam igualmente os dois países", como o narcotráfico, o contrabando e o controle do câmbio na Venezuela.
A colombiana disse que seu país espera uma proposta de Caracas para combater o contrabando de combustível –produto fortemente subsidiado na Venezuela.
Rodríguez, por sua vez, disse que Caracas encontrou na lei do país vizinho "instrumentos jurídicos que facilitam o contrabando de produtos venezuelanos à Colômbia".
O governo Maduro diz que a deportação e o fechamento da fronteira são uma resposta ao ataque que feriu três militares na fronteira na última quinta (20). No entanto, entre analistas, as ações são vistas como manobra política do presidente para se fortalecer antes das eleições parlamentares de 6 de dezembro.
ACORDOS 'PRODUTIVOS'
Dos dois lados da fronteira, as declarações nesta quarta tiveram um tom um pouco mais conciliador. "Devemos restituir uma fronteira que seja produtiva, que tenha como base o trabalho", afirmou Maduro, dizendo esperar acordos "produtivos" com Bogotá.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, disse "respeitar" o modelo econômico da Venezuela e que não lhe interessa o confronto com Caracas. Ele, porém, ressaltou que "os problemas da Venezuela nascem na Venezuela, não na Colômbia ou em outras partes do mundo".
À tarde, Santos visitou o lado colombiano da fronteira e falou com os deportados pelo governo Maduro: "Este governo, sim, os quer e os escuta".
Nesta quarta, o secretário-geral da Unasul, o ex-presidente colombiano Ernesto Samper, tornou pública, em nota, sua intenção de que o bloco participe de uma solução para a crise.
"Aos dois [presidentes] manifestei o desejo de a Unasul contribuir para um arranjo bilateral sobre essas diferenças", disse, lembrando, contudo, que o bloco não pode mediar as conversas "se não houver um pedido dos dois países envolvidos".