Katrina, 10 anos depois
Em visita a Nova Orleans, devastada pelo furacão Katrina há dez anos, Obama admite que a reconstrução da região foi surpreendente, mas desigual
"Eu tive que fazer respiração boca a boca, mas ela simplesmente me falou: 'Desisto'". Assim uma mulher descreveu a morte da mãe, aos 95 anos, afogada durante a passagem do furacão Katrina por Nova Orleans, em 2005.
O relato foi publicado pelo "The New York Times" no dia 31 de agosto daquele ano para ilustrar o desespero que tomou conta da população na cidade mais afetada.
Dez anos depois, o presidente Barack Obama voltou à cidade, que fica no Estado da Louisiana, e reconheceu que a recuperação de Nova Orleans se deu de forma surpreendente, porém desigual.
Em discurso numa arena reconstruída no bairro mais devastado pelo desastre, o Lower 9th Ward, nesta quinta-feira (27), o democrata afirmou que ainda "não se pode descansar".
"O nosso trabalho não estará terminado enquanto 40% das crianças ainda viverem na pobreza. Não estará terminado enquanto uma família negra ganhar metade do que ganha uma branca. Não estará terminado enquanto alguns ainda não tiverem a sua moradia nem emprego, especialmente os negros", discursou.
Ao menos 1.800 pessoas morreram com a passagem de ventos de até 193 km/h. Em Nova Orleans, localizada abaixo do nível do mar, os diques que supostamente a protegiam romperam, e 80% da cidade ficou debaixo d'água.
De lá para cá, a recuperação foi desproporcional.
Regiões mais prósperas se restabeleceram e a cidade se tornou mais cara. Enquanto a população branca se expandiu, áreas com maior densidade de negros viram moradores irem embora para nunca mais voltar.
Segundo o centro de estudos americano Data Center, 40 dos 72 bairros já recuperaram 90% da população existente antes do furacão.
RESILIÊNCIA
Em referência às eleições presidenciais do próximo ano, Obama afirmou que se ouvirá muitas críticas ao seu governo até 2016.
"Isso é ok, faz parte da democracia. Se não estamos satisfeitos, continuamos desafiando nossos governantes, porque temos confiança de que conseguimos avançar", admitiu.
"Mas é importante nos lembrarmos do que é certo e bom", disse Obama, fazendo referência à melhora no sistema educacional local, ao reaquecimento econômico e às inovações urbanas necessárias para evitar novas tragédias como a do Katrina.
"Isso nos dá esperança e nos inspira", comentou.
Segundo Obama, a "resiliência" da população de Nova Orleans deverá servir de exemplo para todo o país, especialmente no Alasca, cujas características ambientais se veem ameaçadas pelas mudanças climáticas.