Dilma retoma pleito por reforma da ONU
Presidente endurece discurso e, após 11 anos, ressuscita cúpula entre os quatro países que lideram reivindicação;
Mudança, cobrada pelo governo anterior, é improvável; Japão, Alemanha e Índia completam grupo
Dilma Rousseff adotará neste sábado (26) um discurso mais duro para pedir a reforma do Conselho de Segurança da ONU durante encontro em Nova York entre os chefes de Estado dos países que lideram o pleito –Brasil, Alemanha, Japão e Índia.
Em 11 anos, este é o primeiro encontro de alto nível do chamado G4, que tenta tirar a reforma do papel.
Foi Dilma quem convenceu a chanceler alemã a participar. Até a visita de Angela Merkel ao Brasil, em agosto, o debate seria ministerial.
Em sua declaração à imprensa antes do encontro, Dilma deve criticar a atual estrutura do conselho, considerada por ela obsoleta.
A presidente afirmará, de forma indireta, que algumas das crises internacionais não têm tido resposta por causa da composição engessada do conselho, o único órgão da ONU com poder decisório.
Recentes vetos da Rússia em decisões sobre a Síria e a Ucrânia foram criticados por agravar a incapacidade de ação do organismo.
CLUBE DOS CINCO
O Conselho de Segurança é responsável por deliberar medidas como intervenções militares. É formado por cinco membros permanentes, com direito a vetar decisões –Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China– e dez membros rotativos, que mudam a cada dois anos.
A atitude mais dura da presidente brasileira é incentivada pela decisão da ONU de formalizar por escrito, pela primeira vez, a continuidade da negociação da reforma do conselho. Com isso, as tratativas não serão zeradas na passagem da 69ª para a 70ª sessão da Assembleia-Geral, e a agenda incluirá "o tema da representação equitativa e do aumento de membros do Conselho de Segurança".
Ainda que não seja uma vitória em si –reformar o organismo é uma batalha sem perspectiva de vitória–, a aprovação é celebrada pelo G4 como um avanço sobre os membros permanentes, sobretudo a China, que se opõe à mudança por não querer conceder o status ao Japão.
Na sessão de aprovação, o embaixador chinês considerou a decisão "técnica" e disse que o processo "aprofundou as diferenças".
"Se é técnica, por que tantas potências tentaram barrá-la?", questionou em artigo Hardeep Puri, que foi representante da Índia na ONU e embaixador no Brasil e hoje é vice-presidente do Instituto Internacional para a Paz.
A Rússia também reclamou. Para o embaixador do país, "a raiz dos problemas não está na metodologia, mas em questões-chaves" da própria reforma. De acordo com diplomatas, a campanha obstrucionista se estendeu até minutos antes da aprovação.
EUA e Reino Unido silenciaram. O único membro permanente que se colocou a favor da mudança foi a França.
O embaixador do Brasil na ONU, Antonio Patriota afirma que a reforma é fundamental para evitar o descrédito da ONU. A última reformulação do órgão ocorreu há 50 anos e limitou-se a aumentar o número de membros não permanentes de 6 para 10. Desde sua criação, porém, as Nações Unidas passaram de 51 para 193 membros.
A ONU também formalizou, pela primeira vez, um cronograma da eleição para secretário-geral, em 2016.
Os candidatos dos países deverão ser anunciados com prazo suficiente para sabatinas, uma forma de pressionar o CS a conduzir o processo com mais transparência.
Os países foram "convidados" a nomear mulheres para a disputa. A ONU nunca teve uma secretária-geral.