Transição na Argentina
Presidenciáveis evitam falar em 'ajuste'
Correções serão inevitáveis para 'rebalancear' economia, mas candidatos fogem de termo que lembre colapso de 2001
Principal gargalo é falta de dólares, mas país sofre ainda com a inflação elevada e a estagnação econômica
Na campanha presidencial argentina, a palavra "ajuste" na economia é tema proibido.
Sob influência do que ocorre no vizinho mais importante, o Brasil, e por lembrança do colapso da economia argentina em 2001, nenhum dos atuais candidatos à Presidência se atreve a classificar dessa maneira as correções consideradas inevitáveis caso chegue à Casa Rosada.
Para economistas e empresários, a saída de Cristina Kirchner, em dezembro, significará uma mudança de rota no país, hoje acometido por inflação elevada, falta de dólares e estagnação econômica.
"É impossível manter a situação que se tem agora. Nos bastidores, está tudo desmoronando", disse à Folha o presidente de uma grande empresa que opera na Argentina.
"O dólar disparou no mercado paralelo, as reservas sumiram, as fábricas estão parando e os fornecedores estrangeiros estão sem receber."
O principal gargalo é a falta de dólares. Fora do mercado internacional de crédito desde julho de 2014, quando perdeu disputa judicial com credores externos, o país passou a depender exclusivamente da receita das exportações para obter dólares.
Mas, com a queda nos preços das matérias-primas e a recessão no Brasil, seu mais importante mercado, as exportações recuaram 17% até agosto e se prevê que essa receita deva desaparecer até 2016.
Sem dólar, as empresas não podem comprar insumos importados para produzir. E o excesso de intervenção do governo para tentar equilibrar essa balança acabou afugentando investidores de fora.
Consultorias estimam que o país parou: terá entre zero e 0,5% de crescimento neste ano. Há quatro anos, só o setor público gera empregos.
"Há uma dinâmica na economia em que será imprescindível um rebalanceamento", diz Marcos Buscaglia, do Bank of America/Merrill Lynch.