Para especialistas, é preciso aceitar desvalorização e conter gastos
Para fabricar um clima de bem-estar às vésperas da eleição, o governo argentino triplicou os gastos públicos neste ano em relação a 2011, aumentou as restrições às importações e está queimando as reservas do Banco Central.
Essa política, segundo economistas, tem provocado incertezas sobre como será possível reverter o quadro no próximo mandato presidencial.
Entre especialistas, não há opção senão aceitar a desvalorização do peso e conter os gastos do governo. Os candidatos, porém, prometem "correções sem ajuste" e trocam acusações sobre quem produzirá a temida alta do dólar.
"Chegaremos gradualmente a uma inflação de um dígito, mas nunca à custa de um ajuste das nossas políticas de inclusão social, e sim com maior crescimento", disse o favorito Daniel Scioli no lançamento de seu programa econômico, há cerca de dez dias.
"O kirchnerismo vai nos deixar um Banco Central pelado", criticou o opositor Mauricio Macri (PRO) na última quinta-feira (1º).
Para superar a falta de dólares, segundo Juan Carlos Barbosa, economista do Itaú Unibanco, a agenda número um do próximo governante deverá ser negociar com os "abutres" (credores externos). A resistência foi uma das principais bandeiras políticas de Cristina Kirchner.
Os candidatos já acenaram com um acordo, mas o governista Scioli diz que pretende negociar condições.
"A única chance para que o gradualismo tenha sucesso é o acordo com os credores", diz Barbosa. Sobretudo quando se fala em reduzir paulatinamente gastos públicos e os subsídios do governo.
"Mas, recebendo reservas cambiais tão baixas, o governo não terá muita margem para negociar condições com os credores ou mesmo obter um perdão de parte da dívida", prevê o economista.
Só com mais dólares, dizem os economistas, será possível retirar as barreiras às importações e outros pagamentos em dólares, que no vocabulário argentino ganharam o nome de "cepo cambiario".
Economistas ligados a Macri falam em retirar barreiras em 24h, indicando uma política mais rápida de correção. Já Sergio Massa (UMA) diz que levará cem dias para eliminar o "cepo", alvo de constantes críticas de empresas brasileiras que exportam para o país.
DIFICULDADES FORA
O principal risco à estratégia gradualista e de menos custo de um ajuste é a piora da economia internacional. Além da baixa das exportações, outras formas de captar dólares, como a atração de investimentos produtivos, estão travadas com as dificuldades no Brasil e na Europa e com o aumento dos juros nos EUA.
"Mas manter os controles cambiais seria condenar o país ao baixo crescimento, e acho que nenhum dos candidatos quer isso", diz Barbosa.
Para Marcos Buscaglia, chefe de pesquisa econômica para a América Latina do Bank of America/ Merrill Lynch, porém, a Argentina em 2016 poderá ter um destino melhor do que o Brasil e seu ajuste pós-eleição.
"A vantagem da Argentina é que tanto o país quanto as famílias estão desendividados. Ao abrir as portas a investimentos e negociando com os credores, a Argentina poderá reduzir o custo desse rebalanceamento."