João de Orleans e Bragança
Empreiteiras reincidentes
Que Lula e Dilma fiquem na história por terem incluído milhões de brasileiros, não por terem passado a mão na cabeça de corruptos
Em uma sexta-feira, 8 de maio de 1987, a Folha trazia na seção de classificados "Negócios. Oportunidades" um pequeno anúncio que foi o começo da descoberta do "clube", ou quadrilha, das empreiteiras.
O jornalista Janio de Freitas obteve informação de que os 18 lotes da concorrência da ferrovia Norte-Sul tinham sido previamente divididos pelas empreiteiras Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Mendes Júnior, além de outras "principiantes". Isso foi há 27 anos e o presidente da República era José Sarney.
Janio publicou em código, no mesmo dia em que seriam abertos os envelopes com o resultado da concorrência, a letra "L", de lote, e em seguida as iniciais de cada empreiteira que, conforme o acerto entre elas, escolhera o trecho e o preço que mais lhe agradava.
Caso denunciasse antes, o "clube" mudaria os resultados. Cinco dias depois, foram todos desmascarados na Folha. A estatal Valec e Ministério dos Transportes --e o ministro José Reinaldo Tavares-- ficaram na mesma saia justa em que hoje estão as reincidentes empreiteiras e os corruptos da vez.
A concorrência foi anulada, ninguém foi incriminado e meses depois o mesmo grupo dividiu de novo o butim.
O vice-presidente da República, Michel Temer, disse, em relação ao assalto à Petrobras, que deve haver uma "repactuação de eventuais exageros". Não é exagero, é roubo! Em outras palavras: "Todos sabemos disso há décadas, é assim que funciona mas já que descobriram...".
São dezenas de bilhões de reais, metade sem licitação, com as mesmas empreiteiras que cresceram no regime militar sem imprensa livre e fizeram fortunas que se multiplicaram às custas de cartéis, comprando partidos e políticos, financiando campanhas, fraudando concorrências e decidindo preços de obras.
Tornaram-se especialistas em grandes obras e o fazem com qualidade. Mas nunca tiveram que disputar com as melhores empreiteiras do mundo, pois temos uma lei que dificulta a entrada de estrangeiras. As doações de empreiteiras para campanhas são propinas oficiais com nota fiscal! São inidôneas, sim, têm que ser punidas e os responsáveis, inclusive sócios controladores, se culpados, também.
Até quando políticos aceitam e dizem que a ética da política é diferente? Será que Dilma, Lula, Maluf, Collor e Sarney viraram farinha do mesmo saco? Até quando melhorar a vida dos mais pobres, dar Bolsa Família para 50 milhões de brasileiros e outros programas sociais totalmente necessários fará com que o governo ache que tem salvo-conduto para maracutaias?
Alguns acreditam que os fins justificam os meios e que a corrupção para a "hegemonia e tomada de poder" é válida. A dura e longa construção de nossa democracia pode estar sendo enfraquecida por aqueles que se acham superiores às instituições. Que o DNA autoritário do PT sofra uma mutação democrática.
O Brasil não pertence a um partido nem a uma ideologia. O Brasil é um "país de todos". Que Lula e Dilma fiquem na história por terem incluído socialmente milhões de brasileiros, não por terem flertado com projetos de poder a qualquer custo e por terem passado a mão na cabeça de corruptos e traidores do Brasil.