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Ainda a incerteza
No mercado financeiro, as últimas semanas foram dominadas pela expectativa diante da reunião do Fed, o banco central americano. Aguardava-se a decisão sobre a taxa de juros; a indicação de aumento iminente poderia trazer instabilidade, pois reforçaria a tendência de valorização do dólar em relação a outras moedas, sobretudo de países emergentes.
O Fed seguiu em certa medida o roteiro esperado ao abandonar o compromisso de manter os juros em zero por pelo menos duas reuniões adicionais. Acena com uma alta a qualquer momento.
Por outro lado, foi cauteloso ao reafirmar que a decisão sobre a iniciativa não está tomada, pois ainda há dúvidas acerca do vigor da retomada americana.
É certo que a economia tem dado sinais de força. O PIB cresce a um ritmo próximo de 3% há alguns trimestres. Nos últimos seis meses foram gerados cerca de 300 mil empregos mensais, em média, e a taxa de desocupação tem caído de forma persistente.
A inflação, porém, hoje em 1,5% --a meta é 2%--, não dá sinais de acelerar por ora. Enquanto permanecer assim, o Fed não terá pressa.
Janet Yellen, presidente do banco central, resumiu o quadro dizendo que a retirada da palavra "paciência" do comunicado (entendida pelo mercado como compromisso de manutenção da taxa em zero por pelo menos três meses) não indica impaciência.
A novidade mais relevante esteve na referência ao desempenho fraco das exportações americanas, um dado ligado diretamente à valorização do dólar. Se a moeda seguir a trajetória ascendente, as vendas ao exterior serão ainda mais prejudicadas (contendo o crescimento), ao passo que o preço dos importados cairá (arrastando consigo a inflação).
Nesse cenário, de crescimento e inflação menores, a elevação dos juros não virá tão cedo.
A questão de fundo diz respeito ao quadro global. Num mundo de fronteiras abertas para o fluxo de dinheiro, os investimentos são feitos onde quer que haja possibilidade de ganho, ainda que pequeno.
A simples expectativa de juros maiores nos Estados Unidos gerou uma compra de dólares como não se via desde os anos 1980.
Mas aí está o nó: ajudando a valorizar o dólar, os investidores reforçam as incertezas do Fed. Por essa razão, o movimento do banco central americano, quando for feito, será tímido. As taxas de juros continuarão baixas por um período maior do que se supunha.