Felipe Bronze
O assunto é protestos de março
Coxinhas e coxões
Somos coitados incapazes de produzir ou empreendedores que querem melhorar de vida esperando que o Estado nos dê uma trégua e saia do caminho?
O ano de 2015 segue sombrio para os brasileiros. Enquanto a política ferve em Brasília, na vida real os mortais que geram empregos e fazem a economia andar vão sendo cozidos em banho-maria.
Restaurantes, por exemplo, são ótimos exemplos para estudo. Não vendem apenas comida, são um microcosmo da economia. Seu "pot-pourri" de custos é composto de alimentos (haja inflação), serviços públicos (energia elétrica, que já teve aumento de 30% neste ano, e água, que deveria ter ficado mais cara e, por isso, está acabando), bebidas importadas (olha o dólar alto, aí), aluguel e custos trabalhistas.
Há também o custo do dinheiro para investimentos e estoque inicial (com os maiores juros do mundo). Soma-se a essa receita um público consumidor com cada vez menos poder aquisitivo e o resultado é um prato indigesto.
O governo parece menos preocupado com a economia e mais interessado em insistir em propaganda e na contabilidade criativa. Segue brigando com os fatos, mesmo com ultrajantes 62% de reprovação.
A oposição também não se acerta. Bate no governo por "mexer no direito dos trabalhadores". Pois é isso mesmo que qualquer governo deveria fazer. A CLT envelheceu. A flexibilização da contratação de mão de obra, por menos dias na semana e pagamento por horas trabalhadas, bem como a correção de distorções, como seguro-desemprego, seriam soluções lógicas para um país que precisa produzir mais e melhor.
Os líderes petistas, que gastaram décadas esperneando contra as privatizações, parecem ter capitulado agora que estão no governo. Fala-se na venda de ativos significativos na Petrobras. Pois deveriam vender tudo. Deu certo com as telecomunicações, com a siderurgia. Deve dar também com as outras estatais.
Um país com sérios problemas de corrupção e áreas fundamentais em estado deplorável (como educação e saúde) tem de se concentrar no essencial e deixar a iniciativa privada, que não vive do dinheiro do cidadão, mostrar como se faz. Royalties e impostos bem negociados garantirão nossa fatia do bolo.
A reforma política, tema requentado das manifestações de 2013 e que está na moda de novo, é fundamental, porém, com outra agenda. O fim do voto obrigatório, do horário eleitoral gratuito, da "Voz do Brasil" e afins deve estar na ordem do dia. Nada que é obrigatório pode ser bom.
Impressiona como anda pobre, supérflua e inócua a argumentação dos defensores do governo. Rotular de "elite branca", "luta de classes" e "direita coxinha" aqueles que discordam do discurso oficial serve apenas para infantilizar o debate.
O que está em jogo é quem somos e para onde vamos. Somos coitados incapazes de produzir e de fazer escolhas ou somos empreendedores famintos por melhorar de vida, apenas esperando que o Estado nos dê uma trégua e saia do nosso caminho?
Queremos que o governo nos cobre cada vez mais impostos para se manter inchado, doente e corrupto? Ou queremos um governo que simplifique e diminua tributos, estimule o crédito para a produção, e não para o consumo, que garanta oportunidades iguais por meio de mais educação, e menos por meio de cotas, que incentive o empreendedorismo, e não a dependência de programas sociais eleitoreiros?
Independentemente de ideologia política, urge diminuir o peso do Estado na vida dos brasileiros, sejam brancos ou negros, petistas ou tucanos, coxinhas ou coxões. Ou, então, nossos restaurantes podem entrar em colapso definitivo.