Editoriais
Dividir e subtrair
O aspecto mais lamentável dos sopapos e pontapés trocados por professores paulistas em greve, na sua última assembleia, está em não suscitarem surpresa.
Já na metade desta paralisação recorde, em 23 de abril, docentes amotinados tentaram invadir e vandalizaram a entrada do prédio histórico Caetano de Campos, na região central de São Paulo. A categoria se perde e se afunda na própria intransigência.
Composta por 230 mil pessoas, vê seu futuro comandado por algumas centenas, ou uns poucos milhares, de militantes que afluem quase semanalmente à avenida Paulista. Mais para atrapalhar o trânsito e chamar a atenção do que para devolver alguma racionalidade à série de desatinos iniciada há quase três meses.
Que essa paralisação se tenha tornado a mais longa da história da Apeoesp (sindicato dos docentes paulistas) poderia até ser comemorado como um feito por grevistas mais iludidos ou inflexíveis. Mas a verdade é que ela se encaminha para um final melancólico.
Os professores estão divididos; os mais tresloucados entre os que ainda comparecem às assembleias impuseram a continuação da paralisação, numa votação conturbada.
Nas escolas, porém, a já limitada adesão passou a definhar assim que o ponto dos faltosos foi cortado. A própria presidente do sindicato defendeu o retorno às aulas, mas terminou derrotada.
O governo de Geraldo Alckmin (PSDB) tem sua parte de responsabilidade, por certo. Alega que não pode dialogar antes de finalizar o novo plano salarial, até julho, quando se completa um ano do último reajuste.
A recusa a negociar a demanda exorbitante dos docentes por um aumento de 75% decorre de considerar que a greve tem motivação política. Com efeito, ela foi decidida em meio a manifestações de sindicatos e outros grupos que nada tinham a ver com educação em apoio à presidente Dilma Rousseff (PT).
Os líderes do professorado dizem defender a qualidade do ensino, mas a justificativa soa insincera. Mestres que se dispõem a subtrair de seus alunos quase três meses de aulas patenteiam que o aprendizado não coroa sua escala de prioridades.
Mesmo com baixa adesão, a greve desarranja ainda mais a caótica rotina das escolas estaduais. Os professores só fizeram aumentar a revolta de pais e estudantes com a decisão canhestra da última assembleia, e deles agora se espera que não reincidam no erro.