EDITORIAIS
Levy na encruzilhada
Atacado no governismo por suas virtudes, ministro ainda não conseguiu esboçar um plano mais ambicioso para o Orçamento e a economia
O movimento político que resultou no aumento da influência do ex-presidente Lula sobre o governo Dilma Rousseff (PT) suscitou nova tentativa de enfraquecer o ministro Joaquim Levy, da Fazenda.
O economista ortodoxo padece por ter cumprido a missão elementar de evitar um desastre maior e imediato. No governismo, sofre críticas em razão de suas virtudes –por liderar o esforço de fazer o básico a fim de evitar o colapso.
É fato que a presidente sonegou apoio a muitas das propostas de Levy. Restam, ademais, divergências programáticas no miolo da equipe encarregada da gestão da economia. Mas também o ministro falhou, além de frustrar quem esperava mudança maior que a descontinuidade da política ruinosa do primeiro governo Dilma.
A Fazenda compartilhou do otimismo irrealista do Planejamento, no primeiro terço do ano, quanto ao aumento real da receita em 2015, estimado em cerca de 5% quando a arrecadação já baixava 3%.
Reconheça-se que a frustração da expectativa deveu-se em parte à recessão mais grave que a esperada e à rejeição parcial de medidas tributárias enviadas ao Congresso. Faltou, de todo modo, prudência no plano orçamentário de 2015.
Tais adversidades, somadas à inabilidade política, levaram o governo a admitir em julho que praticamente não haveria saldo no caixa em 2015 –e, em agosto, a enviar ao Congresso um Orçamento deficitário para 2016.
O resultado das contas já seria notícia má o bastante. Adicionalmente, a alteração brusca das projeções oficiais sugeriu descontrole. Tais reveses, mais a inexistência de um plano de médio prazo que contrabalançasse o presente recessivo, motivaram o quase pânico cambial de setembro.
Embora já atenuada, a crise rebaixou a classificação de crédito do país, encareceu o dólar, elevou juros e expectativas de inflação. Em suma, adiou de vez para 2017 a recuperação econômica.
Levy, como diz o lugar-comum, apagou um incêndio. Mas deixou de representar, para o mercado credor e investidor, uma garantia de que os ajustes prometidos e desejados serão levados a cabo.
E o fogo pode ser revivido, pois o novo pacote de emergência se ampara na nebulosa ressurreição da nova CPMF e, ressalte-se, porque ainda não há sinal de estratégia mais ambiciosa para o controle de gastos públicos –para não falar de reformas que removam o entulho burocrático, legal e tributário que emperra a atividade econômica.
Caso a presidente represente obstáculo a esse plano mínimo, convém deixar clara a origem da paralisia. Do contrário, haverá compromisso apenas com o atraso.