Dilma minimiza atrito causado por demissão de Marta
Presidente afirmou que a ex-ministra tem direito de dar opinião e que não deu prazo para outros titulares saírem
Petistas avaliam que Marta criou 'um fato político desnecessário' ao antecipar uma disputa interna de 2016
Um dia após a ruidosa saída de Marta Suplicy do Ministério da Cultura, a presidente Dilma Rousseff procurou minimizar o fato.
No Qatar, em escala da viagem para um encontro com chefes de Estado na Austrália, Dilma disse que soube com antecedência do teor da carta de demissão de Marta e afirmou que não deu prazo para seus ministros entregarem os cargos.
A carta de Marta foi divulgada na terça, quando Dilma estava chegando ao país árabe. Num trecho, a agora ex-ministra diz esperar que a presidente escolha uma equipe econômica independente e experiente para resgatar a credibilidade do governo.
"A ministra Marta não fez nada de diferente, de errado, não teve atitude incorreta, seria uma injustiça [criticá-la]. Ela me disse o teor da carta antes de eu viajar. Logo depois da minha eleição, disse que sairia e eu aceitei", afirmou Dilma.
Para a ela, Marta só expressou o que pensa: "Não fez nada de diferente de outros ministros. As pessoas têm direito de dar opinião."
Dilma também respondeu sobre outros ministros. Afirmou que não estabeleceu prazo de saída. E desautorizou qualquer um a falar sobre o tema. "O Palácio não fala, é integrado por paredes mudas. Só quem fala sobre reforma é essa pessoa modesta que vos fala aqui", disse, após encontro com autoridades. "Não vou fazer a reforma ministerial imediatamente. Vou fazer por partes."
Ainda sobre a troca de ministros, Dilma afirmou que "não tem cabimento" a especulação de que o ex-presidente Lula estaria influenciando na escolha da nova equipe.
Qatar foi o local escolhida para Dilma dormir antes de seguir para o encontro do G20 (grupo das maiores economias) na Austrália.
O movimento de Marta gerou especulações. Membros da cúpula do PT de São Paulo avaliam que ela criou um "fato político desnecessário" ao antecipar uma disputa interna para as eleições de 2016.
Marta sinalizou a aliados que, caso não seja a candidata à prefeitura paulistana, poderá deixar o PT e disputar contra Fernando Haddad.
As apostas quanto ao destino de Marta giram em torno do PMDB. Ex-presidente do Jockey Club de São Paulo e marido da petista, o empresário Márcio Toledo tem bom trânsito no partido, principalmente com o vice-presidente da República, Michel Temer.
Apesar de isolada, Marta tem respaldo da militância petista e se apoia nisso quando reivindica algo junto a Lula. Para interlocutores do ex-presidente, porém, ele deve tentar contornar a saída de Marta, mas não esticará a corda a ponto de abrir mão da reeleição de Haddad.
Questionada nesta quarta pela GloboNews por que falou sobre economia ao sair, Marta respondeu: "Porque eu sou paulista e São Paulo sente as agruras dessas dificuldades econômicas que o Brasil está vivendo. E eu sou senadora pelo Estado de São Paulo". Afirmou ainda que continua apoiando Dilma.
OBAMA
Dilma negou que, na reunião do G20, discutirá a polêmica sobre espionagem americana no encontro privado com o presidente americano, Barack Obama. "Nós não vamos tratar de questões pontuais, essa é uma questão que se trata bilateralmente, não no âmbito do G20", afirmou.
Em 2013, Dilma cancelou uma visita oficial aos Estados Unidos após vazamentos de documentos sigilosos americanos mostrando que ela, assessores e a Petrobras haviam sido alvo de espionagem dos EUA.