Carta revela ameaças de ex-amante ao dono da UTC
Pessoa afirma ter pago R$ 800 mil a mulher
Uma carta apreendida pela Operação Lava Jato revela ameaças de uma ex-amante ao empreiteiro Ricardo Ribeiro Pessoa, da UTC. Ela promete "entregar" pessoas ligadas ao doleiro Alberto Youssef e pede, em troca do silêncio, o pagamento de R$ 1,55 milhão.
Ameaças de uma mulher que ele identificou como Mônica Santos haviam sido narradas pelo próprio Pessoa no depoimento que prestou à Polícia Federal após sua prisão, em 14 de novembro. Ele disse que havia tido um "breve um relacionamento" com Mônica, 22 anos atrás, e que ela passou a "lhe importunar" em 2012. Ela tem 46 anos
Pessoa disse ter pago cerca de R$ 800 mil a Mônica por meio de Youssef para que ela parasse de procurá-lo.
O que Pessoa não contou à PF é que as "importunações" voltaram a ocorrer após o pagamento e incluíam ameaças de delatar à PF que Youssef era amigo do empreiteiro.
Youssef foi preso em março, na primeira etapa da Operação Lava Jato, e Mônica associou o doleiro à pessoa enviada pelo empreiteiro para fazer o pagamento de R$ 800 mil. Na carta, a mulher disse estar "apavorada" com ligações não identificadas.
A carta foi apreendida pela PF no apartamento de Pessoa, em São Paulo.
Mônica escreve: "Sinto-me ameaçada e, do jeito que [a PF e Receita Federal] estão fiscalizando, se vierem para cima de mim, entrego quem conheço e mantém negócios com Alberto Youssef e seus amigos com os devidos endereços".
Ela contou que esteve com Youssef e concluiu que "é seu amigo pessoal, como ele me confessou pessoalmente, que é seu amigo que você confia nos negócios". A mulher diz que o empreiteiro a "envolveu com um bandido".
Mônica orienta o empresário a enviar R$ 1,55 milhão em caixas a serem entregues a uma empresa de guarda-volumes em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo). Ela teve um restaurante na cidade.
"Não estou lhe extorquindo e não tenho medo de suas ameaças", escreveu. Pelo contexto e as datas citadas na carta, ela teria sido escrita entre julho e outubro de 2014.
A Folha não conseguiu localizar Mônica. A UTC afirma que "o assunto já foi explicado nos depoimentos prestados à Justiça".