Escândalo na Petrobras
Delator nega ser 'algoz' de perda bilionária da estatal
Paulo Roberto Costa rebate acusação da Petrobras por meio de advogado
Ex-diretor afirma não ter autonomia sobre gastos em Abreu e Lima e diz que decisões na empresa são colegiadas
Ex-diretor da Petrobras e um dos principais delatores da Operação Lava Jato, Paulo Roberto Costa defendeu-se nesta segunda (19) da tentativa da estatal de responsabilizá-lo pela explosão de custos na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, e disse, por meio de seu advogado, que não é o "algoz" de perdas bilionárias para a empresa.
"Dessa forma, parece que ele é o algoz de uma perda bilionária para a Petrobras. Isso não é verdade", disse o advogado de Costa, João de Baldaque Mestieri. "Ele não tinha autonomia para autorizar esse tipo de gasto."
No domingo, a Folha revelou que a refinaria de Abreu e Lima vai gerar uma perda de US$ 3,2 bilhões para estatal. As receitas futuras do projeto serão insuficientes rentabilizar o investimento.
Os custos estimados da obra de Abreu e Lima saíram de US$ 2,5 bilhões em 2005 para os atuais US$ 18,5 bilhões. É hoje a obra mais cara em curso no Brasil, superando o Comperj e a usina de Belo Monte.
Após a publicação da reportagem, a Petrobras divulgou uma nota dizendo que Costa, que ocupava a diretoria de Abastecimento, propôs um plano de antecipação das obras da refinaria, que "levou a grande número de aditivos contratuais".
A antecipação das obras, que não é recomendada pela área técnica na fase inicial de planejamento, obrigou a estatal a fazer uma série de mudanças no escopo do projeto, encarecendo as obras.
De acordo com o advogado de Costa, o plano de antecipação da refinaria foi autorizado por toda a diretoria executiva da empresa em 2007, incluindo a atual presidente Graça Foster. "Ele nunca poderia ter feito isso sozinho", disse Mestieri.
O advogado também frisa que "todos" os aditivos autorizados para a obra de Abreu e Lima foram aprovados pela diretoria executiva de "forma colegiada".
"Na época, o Brasil precisava elevar a sua capacidade de refino para reduzir o prejuízo com importações de combustíveis. Daí a necessidade de construir novas refinarias o quanto antes."
Em 2009, o projeto já dava sinais de que estava com a rentabilidade comprometida, quando a diretoria executiva da Petrobras aprovou que a construção da refinaria entrasse formalmente em sua fase de execução.
Como as obras atrasaram, o conselho de administração deu seu aval para que o projeto seguisse adiante em junho de 2012. Nessa época, o prejuízo previsto pela área técnica da estatal já estava em US$ 3,2 bilhões.
PROPINA
Costa disse à Polícia Federal que cobrava propina das empreiteiras envolvidas na obra, ficando com uma parte do dinheiro e repassando o restante a partidos políticos, principalmente PP e PMDB.
O esquema também funcionaria em outras diretorias da empresa.
"Não se pode atribuir ao Paulo Roberto a culpa pelo aumento de custo de Abreu e Lima. Toda essa investigação sobre a Petrobras se origina da decisão dele de ficar em paz e fazer a delação", disse Mestieri.