Ex-diretor chegou a ter R$ 630 mil em espécie e guardava lista de joias
Valor foi declarado à Receita, segundo papel achado pela PF na casa de Cerveró, no Rio
Preso no último dia 14, Nestor Cerveró, 63, ex-diretor da área internacional da Petrobras, chegou a guardar em espécie, "em mãos", um total de R$ 630 mil. Foi o que ele declarou em 2010 à Receita, segundo documento apreendido pela Polícia Federal na casa do executivo em Ipanema, na zona sul no Rio.
O mero ato de guardar dinheiro em espécie em casa não configura crime, mas gera suspeita pela decisão deliberada de sofrer prejuízo financeiro. O valor renderia em 2010, caso aplicado na poupança, cerca de R$ 42 mil.
Em outra declaração à Receita, Cerveró informou ter recebido como remuneração R$ 1,15 milhão da Petrobras em apenas um ano, 2012.
A PF também apreendeu no apartamento sete páginas digitalizadas com a descrição de inúmeros brincos, colares, pérolas, pulseiras, gargantilhas e outras peças de ouro associadas a parentes de Cerveró, além de 98 "diamantes redondos" que teriam sido adquiridos em "Amsterdam Sauer" em junho de 2012.
Uma das peças era uma "letra 'N' em ouro amarelo".
Esses objetos não foram localizados pela PF. Procurado pela Folha nesta quarta (28), o advogado do ex-diretor, Edson Ribeiro, disse que, a respeito de dinheiro em espécie e a lista de joias, "nunca conversou com Cerveró, se trata de assunto pessoal e por isso não poderá se manifestar".
CARTA
A PF apreendeu ainda uma carta, datada de junho de 2012, em que Cerveró diz a um amigo, identificado apenas como Rogério, não aceitar a "pecha de ter sido o causador único deste 'desastre'", em referência à compra da refinaria de Pasadena, nos EUA.
O negócio foi depois condenado pelos órgãos fiscalizadores e gerou prejuízo de US$ 792 milhões à Petrobras, segundo o TCU (Tribunal de Contas da União).
Na carta, Cerveró atribuiu ao ex-presidente da companhia José Sérgio Gabrielli a acusação que lhe era feita:
"O nosso amigo Gabrielli se encarregou de espalhar uma versão fantasiosa do enorme prejuízo que a Petrobras teria causado por um acordo que eu havia firmado sem o conhecimento e a aprovação dos meus pares na D.E. [Diretoria Executiva]."
Segundo Cerveró, uma reunião da diretoria em fevereiro de 2008 "aprovou o valor" de US$ 800 milhões para o fechamento do negócio.
"Nesta reunião houve a participação minha, dos diretores Paulo Roberto, Duque, Almir, Estrela, Graça [Foster, atual presidente da Petrobras] e certamente do presidente Gabrielli", escreveu.