Empreiteira acusa delegado de mentir sobre dois deputados
OAS diz que a PF sabia que parlamentares falavam com doleiro e omitiu isso de juiz
A empreiteira OAS acusa o delegado da Polícia Federal Marcio Anselmo, que conduziu a Operação Lava Jato até o final do ano passado, de ter "faltado com a verdade" duas vezes nas investigações sobre pagamento de propina em obras da Petrobras.
Segundo advogados da empreiteira, a PF sabia desde setembro de 2013 que os então deputados federais André Vargas (ex-PT-PR) e Luiz Argôlo (SD) trocavam mensagens com o doleiro Alberto Youssef por meio de celulares e omitiram esses fatos do juiz Sergio Moro.
Em documento enviado à Justiça, o delegado disse que só solicitou informações sobre os parlamentares "com a deflagração da operação". A Lava Jato teve início em 17 de março de 2014, cerca de seis meses depois da mensagem enviada à empresa que fabrica os celulares BlackBerry, a RIM, do Canadá.
O e-mail pedia os dados completos de usuários que usavam apelidos como Omeprazol, Javier Barden e Greta Garbo. Além de André Vargas, a lista citava as iniciais LA, apontadas depois como as do deputado Luiz Argôlo.
O advogado Edward Carvalho, da OAS, diz que, como deputados só podem ser investigados pelo Supremo Tribunal Federal, toda a apuração da Lava Jato deveria ter sido enviada a essa instância em setembro de 2013.
"Há a possibilidade de que o caso seja anulado por essas mentiras. Quando a PF descobriu os parlamentares, deveria ter mandado o caso inteiro para o Supremo", diz.
O e-mail com a solicitação das informações à empresa que fabrica o BlackBerry estava fora do processo, segundo Carvalho. A mensagem só foi incluída na sexta-feira (20).
Ao enviar à Justiça dados para que o Supremo investigasse os parlamentares, o delegado suprimiu a data do e-mail, segundo Carvalho.
Vargas foi cassado e Argolo não foi reeleito deputado. Ambos devem responder às acusações à Justiça de primeira instância. Quatro integrantes da cúpula e um funcionário da OAS estão presos desde novembro, entre eles o presidente, Léo Pinheiro.
OUTRO LADO
A Polícia Federal não comentou as acusações da OAS. Policiais ouvidos pela Folha disseram que é possível habilitar um celular no nome de um deputado. Há ainda a possibilidade de que o Vargas citado fosse um homônimo do parlamentar.
Ao responder a questionamento similar, o juiz Moro escreveu na última semana que eventual "nulidade recairia sobre as mensagens trocadas" por Youssef com Argolo e Vargas, "sendo fantástico pretender a invalidade de tudo".
Para o juiz, nas respostas recebidas pela PF não havia a identificação completa dos interlocutores dos doleiros, não sendo possível identificar que eram parlamentares.