PT quer aliado na comunicação do governo
Partido almeja o controle de verba publicitária que chega a R$ 200 milhões por ano e está sob o comando da pasta
Jornalista Thomas Traumann deixou o ministério após texto crítico ao governo vazar à imprensa
O PT se mobiliza para ocupar a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República após o jornalista Thomas Traumann, 47, deixar o ministério nesta quarta-feira (25). Por trás da movimentação está o interesse no controle direto de uma verba publicitária próxima a R$ 200 milhões ao ano.
A Secom possui ainda orçamento para contratação de pesquisas e assessorias, elevando a cifra para quase R$ 340 milhões.
Segundo a Folha apurou, a presidente Dilma Rousseff ainda busca um substituto para o comando da pasta, mas pretende manter os gastos com órgãos de mídia sob a guarda da Secom, secretaria que tem status de ministério e também cuida da relação do governo com a imprensa e de sua comunicação interna e externa.
O PT defende que os veículos ideologicamente identificados com a legenda recebam mais recursos federais em detrimento dos órgãos tradicionais de imprensa.
A saída de Traumann foi precipitada pelo vazamento de um texto no qual afirmava que a política de comunicação do governo era "errada e errática". Nele, também constatava o "caos político" vivido pelo Planalto.
Ministro desde 3 de fevereiro de 2014, Traumann havia pedido demissão em novembro por razões pessoais, mas seguiu no posto a pedido da presidente Dilma.
A divulgação do documento revelou uma rara autocrítica do Executivo e, em razão disso, o ministro se enfraqueceu no cargo.
O vazamento do conteúdo interno motivou convites para Traumann explicar, no Congresso, declarações feitas no documento, enviado a ministros e petistas.
O texto diz que, após a campanha eleitoral, "robôs" usados para multiplicar, artificialmente, mensagens nas redes sociais foram desligados do lado petista e mantidos em funcionamento pelos adversários do PSDB.
Dilma não decidiu se optará por um político petista ou se nomeará um "jornalista de peso" para o cargo. O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), segundo a Folha apurou, quer um político.
O deputado Alessandro Molon (PT-RJ) chegou a ser citado como possível ministro. Após a saída de Traumann, porém, seu nome passou a ser "fritado" por correligionários. Colegas afirmam que ele é da corrente petista minoritária denominada "Mensagem", já representada na Esplanada.
Outro nome mencionado foi o do jornalista Eduardo Oinegue, ex-editor executivo da revista "Veja".
O presidente da sigla, Rui Falcão, afirma que a escolha será da presidente. "O que nós temos interesse é por uma política de comunicação que garanta pluralidade, que amplie a liberdade de expressão e que combata o pensamento único na mídia".
Inicialmente, petistas queriam transferir o controle da verba publicitária para o Ministério das Comunicações, comandado por Ricardo Berzoini (PT-SP). Ele é responsável por conduzir o polêmico debate sobre a regulação da mídia, bandeira do PT.
Um dos pontos dessa reforma é o fim da propriedade cruzada, com os grupos de mídia ficando impedidos de possuir, ao mesmo tempo, TV, jornal impresso e rádio.
No microblog Twitter, Traumann postou trechos da música "Novos Rumos", de Paulinho da Viola, para definir sua despedida da Secom. "Vou imprimir novos rumos / Ao barco agitado que foi minha vida."