Polícia pressiona jornalistas a abrir fontes
No Paraná, repórteres são constantemente intimados para depor sobre reportagens
Jornalistas do Paraná que participaram de reportagens sobre irregularidades na polícia local têm sido intimados pela corporação a prestar depoimentos sobre suas apurações. Os profissionais são pressionados a revelar os nomes de suas fontes.
Na semana passada, um repórter convocado a depor desabafou sobre o caso nas redes sociais, o que gerou uma mobilização na categoria.
Segundo o Sindicato dos Jornalistas do Paraná, pelo menos cinco profissionais já foram intimados a falar sobre suas fontes, tanto pela Polícia Militar quanto pela Civil.
Quatro deles trabalham na "Gazeta do Povo". Eles foram responsáveis, em 2012, por reportagens que denunciaram o uso de carros oficiais para fins particulares por policiais.
A prática tem ocorrido há cerca de dois anos. Os quatro já foram chamados a depor cerca de 20 vezes sobre essas e outras reportagens.
O inquérito para o qual são convocados normalmente apura a irregularidade denunciada. O foco do interrogatório, dizem os repórteres, é descobrir os informantes.
"Ficou evidente, pela forma como os depoimentos foram conduzidos", diz o jornalista Mauri König, 49, que coordenou a série. "É uma postura corporativista e uma clara intimidação. Quem perde com isso é a sociedade."
Em alguns casos, policiais denunciados acompanhavam o depoimento. "É um constrangimento não só para nós, mas para as fontes", afirma Diego Ribeiro, 34, chamado a depor quatro vezes.
Numa das oitivas, um policial, suspeito de ser o informante, chegou a ser levado à sala e apontado pelo militar que conduzia o interrogatório: "É ele sua fonte?". "Foi uma aberração", diz o repórter Felippe Aníbal, 33. O inquérito foi aberto só para apurar o vazamento.
"Medo não tenho, mas me dá uma certa indignação. Eles não estão querendo investigar ou punir. É só uma caça às bruxas", diz o repórter-fotográfico Albari Rosa, 49.
A quinta jornalista interrogada era repórter do "Metro Curitiba", chamada para revelar a fonte de uma reportagem sobre o inquérito contra a médica acusada de abreviar a vida de pacientes na UTI.
Os jornalistas têm recorrido ao direito constitucional de sigilo da fonte. Em nota, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) declarou que a ação "atenta diretamente contra a imprensa brasileira": "As polícias devem dedicar seu tempo e efetivos a identificar e punir os agentes cujas contravenções foram alvo de reportagens --e não os informantes".
A Secretaria de Segurança Pública do Paraná disse que irá orientar as polícias a não questionar os profissionais sobre suas fontes e que "repudia" qualquer tentativa de "intimidação e constrangimento a jornalistas e cidadãos que denunciem atos ilícitos".