PT chama prisão de desnecessária, mas afasta tesoureiro
Para o Palácio do Planalto, PT errou ao não tirar Vaccari da Executiva do partido antes de sua prisão
Um mês após a reeleição, ele disse a um aliado: 'Achei que fossem me prender durante a campanha'
Na nota em que anuncia o afastamento de João Vaccari Neto da tesouraria do PT, a cúpula do partido classifica a prisão do petista como "desnecessária" e "injustificada", já que, desde o início das investigações, "ele sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar qualquer tipo de esclarecimento".
O partido também reafirmou a "confiança na inocência de Vaccari". "Não só por sua conduta à frente da Secretaria de Finanças do partido mas pelo princípio de que todos são inocentes até prova em contrário."
O PT pretende indicar um substituto para a tesouraria até sexta (17). O nome deve ser da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil.
Uma ala da legenda defendia que Vaccari deveria ter se afastado em novembro, quando surgiram as primeiras citações ao seu nome. No entanto, o tesoureiro é da CNB e dá sustentação ao presidente do PT, Rui Falcão, que bancou sua permanência no cargo.
O ex-presidente Lula também apoiava a permanência do petista à frente da tesouraria da sigla mas, nos últimos dias, com o fechamento do cerco em torno de Vaccari, havia dito a aliados que preferia sua saída imediata.
Foi Lula quem fechou com Falcão a reação do PT à prisão do petista, em uma reunião nesta quarta-feira (15), no Instituto Lula. O ex-presidente orientou que o PT emitisse uma nota em defesa de Vaccari e que anunciasse que era ele quem pedia o afastamento do cargo, na tentativa de eximir a cúpula petista do ônus de um afastamento depois de tanta protelação.
Apesar de resistir a entregar a tesouraria do partido, Vaccari preparava-se desde outubro do ano passado para o dia de sua prisão.
Um mês após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o bancário disse a um aliado: "Achei que fossem me prender durante a campanha e estava pronto para isso."
O mantra do tesoureiro petista sempre foi o de que a Operação Lava Jato queria "transformar doações legais em ilegais e criar um fato midiático" com a sua prisão.
"Eu sei o que fiz. Nunca operei com Paulo Roberto Costa", repetia em reuniões e pelos corredores da sede do PT nacional, em São Paulo.
Até as vésperas de sua detenção pela Polícia Federal, nesta quarta-feira, Vaccari garantia a dirigentes do PT que não havia provas contra ele. "São só citações, gente falando que me conhece mas ninguém diz que me deu dinheiro ilegalmente."
ERRO
O Palácio do Planalto avalia que foi um erro da cúpula do PT não afastar Vaccari antes de sua prisão e orientou assessores a tratar o ocorrido como algo dentro da "normalidade" em investigações autônomas da Polícia Federal e do Ministério Público.
No Planalto, a avaliação é de que a prisão vem num momento ruim, quando o governo ganhou fôlego para reagir à agenda negativa depois de os protestos de domingo (12) terem reunido menos gente do que em 15 de março.
A equipe de Dilma faz questão de lembrar que ela não quis que Vaccari tivesse envolvimento na arrecadação de recursos de sua campanha. A petista, na época, escolheu Edinho Silva, hoje ministro da Secretaria de Comunicação Social, para a tarefa.
Um assessor disse à Folha que a presidente avaliava que o melhor caminho era o tesoureiro petista ter pedido licença do cargo, mas não fez nenhuma pressão neste sentido por considerar que esta era uma decisão do partido.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que a prisão de Vaccari não traz preocupação ao Planalto. "Um governo que apoia as investigações jamais fica preocupado", declarou.
Já o vice-presidente Michel Temer (PMDB) minimizou o impacto da prisão. "Isso é uma questão da Justiça. Não tem nenhuma conexão com o governo", disse.
A tendência Mensagem ao Partido vai apresentar na reunião do Diretório Nacional do PT, na sexta, em São Paulo, um pedido para o afastamento da direção partidária dos petistas investigados na Lava Jato. O único nessa situação é o senador Humberto Costa (PE), líder do PT no Senado e integrante da Comissão Executiva petista.
(MARINA DIAS, CÁTIA SEABRA, VALDO CRUZ, ANDREIA SADI, MARIANA HAUBERT)