Petrolão
Em depoimento à CPI, ex-diretor critica 'gestão política' na estatal
Segurar preços 'arrebentou' Petrobras e 'maus políticos' originaram corrupção, afirmou Costa
Delator defendeu o fim do financiamento privado de campanhas e argumentou que 'não existe almoço de graça'
Em seu quarto depoimento no Congresso, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa chamou as doações de empresas a campanhas eleitorais de "hipocrisia" e afirmou que o governo federal "arrebentou" com a petroleira ao represar o preço de combustíveis.
Delator, Costa aproveitou o depoimento para criticar o que chamou de "gestão política". O ex-executivo afirmou que o "rombo" gerado nos cofres da estatal pelo represamento de reajustes nos preços dos combustíveis foi dez vezes superior ao prejuízo causado pelos desvios apurados na Operação Lava Jato.
"O que arrebentou a Petrobras é a defasagem dos preços dos derivados, que o governo segurou", disse. "O governo segurou o preço do diesel, o preço da gasolina, e esses valores possivelmente deram rombo de R$ 60 [bilhões], R$ 80 bilhões. A Lava Jato, com R$ 6 bilhões, dá 10% do rombo", completou.
Das quatro vezes em que Costa foi a CPIs --em junho, setembro, dezembro passados e agora--, este foi o mais longo depoimento. Como agora o teor de seu acordo é público, o ex-diretor teve a chance, pela primeira vez, de falar sobre tudo o que tratou com o Ministério Público Federal e com a Polícia Federal.
Assim como fez em seus depoimentos à PF e ao MPF, Costa criticou as doações de empresas a campanhas. Durante a fala, o ex-diretor afirmou três vezes que empresários relataram ter feito doações a campanhas a fim de receber retornos no futuro.
"Não existe almoço de graça", disse. "Por que uma empresa vai doar R$ 20 milhões para uma campanha se ela não tiver algum motivo na frente para cobrar isso?", inquiriu Costa. Ele concluiu que "está comprovado", pelos depoimentos prestados tanto por ele como por outros delatores, "que várias doações oficiais vieram de propina".
Questionado pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP) se é favorável ao fim das doações privadas, Paulo Roberto Costa deu resposta positiva. "Eu acho que para passar esse país a limpo, sim", disse.
'MAUS POLÍTICOS'
O ex-diretor opinou, ainda, que a origem da corrupção na petroleira estatal é culpa de agentes políticos. "[A corrupção] aconteceu por atitudes de maus políticos. Não foi a Petrobras que inventou o cartel, não foi o diretor que inventou", disse. "A origem, a gênese, foi aqui em Brasília."
Costa confirmou alguns dos políticos que denunciou. Enumerou PP, PMDB e PT como principais beneficiados, mas citou o caso da propina ao então senador do PSDB Sérgio Guerra, morto em 2014, para enterrar uma CPI.
O ex-diretor ironizou ainda a quantidade de políticos citados em sua delação --ele não listou todos. "São tantos que me fogem os nomes."
Um momento tenso ocorreu quando o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) questionou Costa sobre por que ele aterrou a piscina de sua casa. O caso foi revelado pela Folha, que relatou suspeita da PF de que a piscina serviu para esconder dinheiro.
Costa disse que foi por um vazamento e que sua mulher reclamava da conta. Para Costa, a suspeita é "folclore". Marun respondeu que "folclore" era crer que o ex-diretor não teria dinheiro para pagar a conta.