Entrevista Michel Temer
Povo tem que aguardar ajuste e ter compreensão
VICE DE DILMA RECONHECE ERROS E SUGERE ESPERAR UM ANO PARA QUE MEDIDAS ECONÔMICAS COMECEM A DAR RESULTADO
Articulador político do Palácio do Planalto, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) admite que o governo cometeu "equívocos" no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, mas pede um ano de "compreensão" à população para que as medidas de correção da política econômica tenham resultado.
"O grande problema é quando você não confessa o equívoco", disse em entrevista à Folha na sexta-feira (29), um dia após a aprovação pelo Congresso das medidas provisórias do ajuste fiscal. "Mas eu sou governo e estou reconhecendo os equívocos."
Entre eles, Temer cita as chamadas pedaladas fiscais, o uso de bancos públicos para pagar despesas do Tesouro e arrumar as contas do governo. "Mais um equívoco, que tem de ser confessado", disse, ressalvando que foram praticadas também pelos antecessores de Dilma.
Prestes a completar dois meses como articulador das relações com o Congresso, Temer diz que passou a dormir cerca de quatro horas por noite para dar conta da função. A seguir, trechos da entrevista com o vice-presidente, concedida em seu escritório em São Paulo.
Folha - Qual a situação que o sr. encontrou ao assumir a articulação política do governo?
Michel Temer - Assumi essa posição em face do pleito da presidente. Eu senti que não poderia recusar, sob pena de entenderem que eu não queria colaborar. Assumi com muita preocupação, porque havia, sem culpa de ninguém, uma certa desarticulação.
Certa?
É, "certa" é por conta do meu estilo [risos].
Existe hoje um certo desencanto do eleitor, que não se sente representado nem pelo Congresso nem pelo governo.
Concordo. Daqui a três anos tem-se a oportunidade democrática de modificar inteiramente. Se o sujeito votou em fulano para deputado e ele não satisfaz, o engano é do eleitor. Se a gente não tiver coragem de começar a lidar com conceitos, você não muda os costumes.
Quem elegeu a presidente Dilma também está insatisfeito.
Há uma decepção, ao meu ver equivocada. O governo vive o influxo das questões internacionais. E está tomando providências. Esse chamado ajuste econômico, fiscal, visa recuperar a economia.
Isso não elimina a ideia da decepção com o governo. O povo tem que aguardar essas decisões do ajuste, verificar como a economia e a política se comportam até o fim do ano para depois fazer uma avaliação definitiva.
É um pedido de trégua?
Estou pedindo compreensão.
Mas a frustração é porque se vendeu um país na campanha e depois ele desapareceu.
Desapareceu em face das dificuldades econômicas, não nos seus programas. Os programas sociais continuam. Não houve abalo aí.
Houve. Mudanças no Fies, no Pronatec, Minha Casa, Minha Vida, PAC...
Houve mudança de rumo, não eliminação. Muitas vezes, tem que reprogramar a economia. Porque pode haver alguns equívocos, e não se pode negar os equívocos. O grande problema é quando você não confessa o equívoco.
Mas o governo é acusado de não admitir os erros.
Mas eu sou governo e estou reconhecendo os equívocos.
E quais são eles?
No final do governo, começou a haver problemas de natureza econômica. Mas eles só vieram à luz depois que nós tomamos posse. Não significa que houve uma falsidade durante as eleições.
O sr. acha que as pedaladas fiscais foram um equívoco?
As pedaladas fiscais, a primeira notícia que tenho, não é justificativa, sempre se verificaram em todos os governos. Em segundo lugar, foi para estabelecer uma certa credibilidade do governo.
Mas tirou...
Mais um equívoco, que tem que ser confessado. Fruto dos costumes políticos do país.
No Congresso, setores do governo não estavam tão comprometidos com o ajuste, principalmente os ligados ao PT.
Nós sabemos como é. Se não desse certo, essas medidas provisórias e [a indicação para o STF do ministro Luiz] Fachin, as pessoas iam dizer, sabe quem é o responsável? É o PMDB, é o Temer. Eu disse: 'Isso eu não vou topar e não aceito'. Tinha pessoas trabalhando contra.
Quem?
Alguns setores titubearam logo na primeira votação. Fui buscar votos na oposição, que ajudaram a ganhar. Agora, comecei a ver nesta semana gente do governo dizendo que se caísse medida provisória 664 não teria importância...
Gente do governo...
Exatamente. Precisei falar com a presidente. Disse a ela: 'Eu não quero ser responsabilizado, porque sinto titubeio do governo em relação às medidas do ajuste'. Aí ela disse: 'Tenho certeza que você vai conseguir, vai ganhar'. Ela sempre me prestigia. Depois daquilo todo mundo passou a trabalhar junto.
O PT não gostou.
Mas o governo gostou. O pior era o PT gostar e o governo não ter sucesso.