Petrolão
Planalto contesta reportagem sobre doleiro
Folha publicou texto com suspeitas de Alberto Youssef contra campanha de Dilma, reveladas em depoimento à Justiça Eleitoral
Doleiro disse ter sido procurado para repatriar R$ 20 mi que seriam usados na campanha de 2014
Em nota enviada à Folha, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) contesta reportagem publicada nesta sexta (2) que relata o teor de novas suspeitas levantadas pelo doleiro Alberto Youssef contra a organização da campanha de Dilma Rousseff à reeleição.
A Folha mostrou que, em depoimento à Justiça Eleitoral em ação que analisa eventual abuso do poder político e econômico da campanha, Youssef disse ter sido procurado por um emissário do campo governista no começo de 2014 para repatriar R$ 20 milhões para a campanha.
Para a Secom, a publicação é "um equívoco, resultado de reportagem que interfere na verdade factual para forjar suspeitas e insinuações". A Secom enuncia então quatro supostos erros da reportagem.
Primeiro, diz que a Folha "escondeu" as negativas de Youssef sobre a transação não ocorrida. Segundo, diz que não é verdade que Youssef disse ter sido procurado por um "emissário" da campanha. Terceiro, afirma que "a suposta operação não poderia ser finalizada porque sequer foi iniciada".
Por fim, diz que a reportagem dá a "falsa impressão" de que o negócio só não ocorreu porque o doleiro foi preso.
Na nota, a Secom afirma que não houve uso de valores irregulares na campanha à reeleição de Dilma Roussef.
A ação contra a campanha foi apresentada à Justiça Eleitoral logo o fim da eleição presidencial de 2014, em que a petista derrotou o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
CONTESTAÇÕES
Não é fato que a reportagem da Folha tenha escondido as negativas de Yousseff sobre a realização da transação. Isso está explícito no texto.
Também não é fato que Youssef tenha deixado de dizer que foi procurado por alguém da campanha. O juiz que o interrogou pergunta textualmente se ele foi procurado por algum integrante da campanha de Dilma. O doleiro, então, faz o relato.
Em nenhum momento a reportagem diz ou sugere que a transação tenha sido iniciada. Nem que deixou de ser feita porque Youssef foi preso.
A reportagem mostra que, no depoimento, o doleiro não identifica a pessoa que o teria procurado para pedir ajuda. E deixa claro que Youssef não participou da campanha da presidente.
Por questão de acabamento editorial, foi cortada a palavra "também" da seguinte resposta de Youssef ao juiz: "Aí aconteceu o negócio da prisão e eu também nunca mais o vi [o emissário]".
Para a Secom, isso sugere que a detenção do doleiro na Operação Lava Jato não implicou interrupção da suposta negociação.