Presidente do TCU pediu vista em processo que interessava ao filho
Suspeita é que ministro Aroldo Cedraz tenha passado informações sigilosas à empreiteira UTC
Ricardo Pessoa, dono da UTC, afirmou em delação que pagou propina ao filho de Aroldo, Tiago Cedraz
Investigadores da Operação Lava Jato suspeitam que o presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), ministro Aroldo Cedraz, repassou informações sobre um processo de interesse da UTC Engenharia, empresa que teria pago propina a seu filho, o advogado Tiago Cedraz.
Em novembro de 2012, quando ainda não havia assumido a presidência do tribunal, Aroldo pediu vista de um caso envolvendo supostas irregularidades na licitação de uma das unidades da usina de Angra 3. Passados 15 dias, ele devolveu o processo ao plenário e se declarou impedido de julgá-lo.
Embora não tenha participado do julgamento, Aroldo pôde analisar por duas semanas o parecer do relator, ministro Raimundo Carrero, favorável à continuidade do processo licitatório.
O relator, como de praxe, havia liberado previamente seu voto aos outros ministros, de acordo com seu gabinete.
O procedimento de Aroldo é considerado pouco usual no TCU. Na maioria dos casos, ministros anunciam o impedimento assim que o processo entra na pauta, sem participar da tramitação.
O pedido de vista foi revelado pelo jornal "O Globo" na edição desta sexta-feira (17).
O processo em questão interessava diretamente à UTC, construtora líder do consórcio Una 3, um dos responsáveis pelas obras em Angra 3. A licitação discutida no TCU dizia respeito a um contrato de R$ 2 bilhões.
O dono da UTC, Ricardo Pessoa, preso por suspeitas de participação no esquema de corrupção da Petrobras, firmou um acordo de delação com o Ministério Público, em troca de redução das penas.
Em depoimento, o empreiteiro contou ter desembolsado R$ 1 milhão para Tiago, filho de Aroldo, ajudar na liberação do processo licitatório de Angra 3, que estava sendo analisado pelo tribunal.
Procurado pela reportagem, Tiago afirmou por e-mail que foi "consultado" por Ricardo Pessoa para trabalhar neste caso, mas que "sua contratação não foi efetivada".
Conforme a Folha revelou em junho, Pessoa ainda disse que, desde 2012, pagava R$ 50 mil por mês a Tiago para ter acesso a informações privilegiadas de processos do TCU.
SOLIDARIEDADE
Outro fato que chama a atenção dos integrantes da Lava Jato é a ligação de Tiago com o Solidariedade.
Ele é secretário de Assuntos Jurídicos do partido. Além disso, de acordo com Ricardo Pessoa, um dos pagamentos a Tiago foi feito por intermédio de Luciano Araújo, tesoureiro da legenda.
Segundo os investigadores, Tiago é quem dá as orientações jurídicas da sigla e, por isso, será alvo da apuração.
Na terça-feira (14), a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão na casa e no escritório de Tiago em Brasília.
Integrantes da Operação Lava Jato têm indícios de que o advogado fazia lobby no TCU em favor de outras empresas, além da UTC.
A suspeita é que, para não aparecer nos processos em que o pai atuava, ele prestava serviços a outros escritórios de advocacia, também vendendo informações sigilosas sobre processos.