Outro Lado
Prisão de petista é política, diz advogado
Defensor afirma que juiz reage a pressão popular e que Dirceu se tornou 'bode expiatório' da Operação Lava Jato
O advogado do ex-ministro José Dirceu, Roberto Podval, afirmou nesta segunda-feira (3) que os pagamentos recebidos pelo petista referem-se a serviços prestados e que a prisão não tinha "justificativa jurídica", classificando-a de "política".
Para ele, Dirceu se tornou um "bode expiatório" da Operação Lava Jato e o juiz Sérgio Moro reagiu "a uma pressão popular" ao decretar a prisão.
"Obviamente não vou culpar Sergio Moro, não acho que ele está aqui fazendo política, mas acho que ele, como qualquer ser humano, reage à pressão popular. (...) A justificativa, me parece, é uma pressão popular, e aí me refiro à política", disse Podval.
"Serve mais para dar uma lição, serve mais por uma questão política, pra dar um exemplo".
Segundo o advogado, a prisão de Dirceu já era esperada "há meses", de acordo com boatos que corriam nos bastidores da investigação. "Eu confesso que já não sei o que é pior. Se é ser preso ou ficar em uma expectativa de uma prisão. É tão ruim, faz tão mal. Talvez o momento da prisão seja o fim de uma angústia enorme", afirmou Podval.
Sobre os pagamentos a Dirceu, incluindo a compra de uma casa para sua filha, a reforma de uma casa e a metade de um avião, Podval informou que todas as justificativas foram dadas nos pedidos de habeas corpus que haviam sido impetrados pela defesa.
"Nós justificamos todos os pagamentos. Dirceu tinha contrato com inúmeras empresas, tinha recebíveis das empresas, prestou serviço às empresas e muitos dos empresários que falaram afirmaram isso", defendeu.
Em relação aos pagamentos feitos a Dirceu enquanto ele estava preso por conta da condenação do mensalão, Podval disse que eram recursos pendentes a receber dos serviços prestados durante sua liberdade. "É óbvio que ele não prestou serviços enquanto preso estava, mas não quer dizer que ele não tenha o que receber posteriormente."
Sobre a suspeita de que não houve relatórios sobre as consultorias, o advogado afirmou que esse tipo de trabalho não produz relatórios.
"Temos comprovadamente inúmeras viagens de Dirceu ao exterior acompanhado de executivos de várias empresas para tentar abrir as portas ao exterior das empresas nacionais", disse.
Para Podval, "não há dúvida" que as consultorias ocorreram.
O advogado até admitiu que os indícios existentes poderiam justificar um processo contra Dirceu, mas não uma prisão preventiva. "Que isso justifique uma prisão antecipada? No meu ver, [a prisão é] equivocada", afirmou.
O advogado do gerente da Petrobras Celso Araripe D'Oliveira, Antonio Carlos Ribeiro Fonseca, não foi localizado nesta segunda. A Hope informou que continuará colaborando com as autoridades. A assessoria da Personal Service não se manifestou.
A Folha não conseguiu contato com a defesa do irmão de Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, nem com a do ex-assessor do petista Roberto Marques.