Janot vence eleição interna da Procuradoria
Com mais de 300 votos de vantagem sobre o segundo colocado, ele lidera lista tríplice que será entregue a Dilma
Nome indicado pela presidente ainda precisa passar pelo Senado, que tem 13 investigados na Operação Lava Jato
O atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi o mais votado nesta quarta (5) pelos seus colegas de Ministério Público para permanecer no comando do órgão por mais dois anos.
A eleição representou uma demonstração de força de Janot, criticado por congressistas devido aos desdobramentos das apurações contra políticos suspeitos no esquema de corrupção da Petrobras.
Janot teve 799 votos, 288 a mais do que na eleição de 2013, que lhe garantiu a indicação do Planalto ao cargo.
Na época, ele encabeçou a lista da categoria com uma diferença de só 57 votos em relação à subprocuradora Ela Wiecko, segunda colocada.
Janot ficou à frente dos subprocuradores Mário Bonsaglia (462) e Raquel Dodge (402). Mais crítico entre os rivais do atual procurador-geral, o subprocurador Carlos Frederico (217), que chamou de "midiática" a condução da Lava Jato, ficou fora da lista tríplice da categoria. Ao todo, 983 procuradores votaram –cada um escolhe até três nomes.
A lista será encaminhada nos próximos dias à presidente Dilma Rousseff, que indicará ao Congresso um nome para o cargo. Ela não é obrigada a acolher um dos sugeridos pela categoria, mas esta é a tradição desde o governo Lula. A expectativa é que opte pela recondução de Janot.
O indicado passará então por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Se aprovado, segue para votação secreta no plenário, onde precisará do aval de ao menos 41 dos 81 senadores.
Dos 27 titulares da Comissão, 8 são investigados por suspeita de envolvimento nos desvios da Petrobras.
ESTRATÉGIA
No Senado, há quem aposte em manobras para derrubar –ou, ao menos, atrapalhar– uma eventual recondução de Janot, cujo mandato termina em 17 de setembro.
Uma estratégia seria adiar a sabatina. Outra seria esvaziar a sessão para tentar aumentar a chances de rejeição.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), nega ter intenção de dificultar a escolha do procurador-geral –ele é um dos 13 senadores alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, abertos a pedido de Janot.
Após ser incluído na lista de 35 congressistas investigados, Renan fez coro com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e acusou o procurador de agir por motivações políticas. Nas últimas semanas, porém, o senador diminuiu o tom dos ataques públicos.
Investigadores que atuam na Operação Lava Jato apostam que, independente da sucessão, as primeiras denúncias contra os políticos devem ser enviadas ao STF ainda neste mês. Cunha e o ex-presidente e senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) estariam entre os alvos.
Apesar dos desgastes na política, a Lava Jato também serviu de bandeira a Janot na briga pela recondução. O procurador-geral afirmou que os ataques serviam como "combustível", rebateu acusações de que agia politicamente e, recentemente, acenou com a criação de uma procuradoria nacional anticorrupção.