Lobista ligado ao PMDB inicia negociação de delação premiada
Fernando Baiano, preso desde novembro, reuniu-se por mais de oito horas com procuradores
Para investigadores, o operador é peça-chave para esclarecer acusação contra Eduardo Cunha
Preso há mais de oito meses, o lobista Fernando Soares, o Baiano, deu sinais de que chegou ao seu limite e passou a negociar uma delação premiada para contar o que sabe sobre o envolvimento do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras.
Nesta quinta-feira (6), ele, que é apontado como operador do partido em contratos da estatal, esteve reunido por mais de oito horas com representantes da Procuradoria-Geral da República, na sede da Polícia Federal em Curitiba. Ele pernoitou no local.
O escopo do acordo deverá ser fechado em Brasília por envolver políticos com foro privilegiado. Pela primeira vez, o lobista esteve acompanhado do advogado Sergio Riera, porque seu time de defensores até aqui, liderado por Nelio Machado, é crítico do instituto da delação.
"Ainda não assumimos o caso, estamos conversando", disse Riera ao deixar a PF.
Segundo ele, a confirmação de que será o novo defensor do lobista acontecerá até o fim de semana, quando a família de Baiano se posicionará sobre o assunto.
Para investigadores ouvidos pela Folha, Baiano é considerado uma peça-chave para esclarecer a acusação lançada pelo lobista e delator Julio Camargo contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Segundo Camargo, o deputado pediu e recebeu propina de US$ 5 milhões, que foram entregues por meio de Baiano. Cunha nega a acusação.
FAMÍLIA NOS EUA
Desde o início do ano, a família vem pressionando Fernando Baiano a fazer a delação. Quando ele deixou de ser defendido pelo advogado Mario de Oliveira, alguns dos parentes cogitaram a contratação de Beatriz Catta Preta, que fechou nove colaborações na Lava Jato.
Ela teria apresentado orçamento de R$ 5 milhões para negociar sua delação. Baiano acabou seguindo pela defesa clássica, contratando Nelio Machado. A pressão familiar não cessou.
A esposa do lobista, que possui cidadania americana, viajou recentemente com os dois filhos pequenos para os Estados Unidos, devido à exposição e ao sofrimento que a prisão de Baiano tem causado à família, segundo relataram à Folha pessoas próximas ao casal.
Os dois filhos são assunto frequente de Baiano, que costuma mostrar as fotos dos meninos e falar da falta que sente das crianças. A interlocutores, contou, emocionado, que, em uma conversa telefônica com um dos filhos, ficou sem palavras quando ele pediu para o pai deixar de trabalhar e voltar para a casa.
A pressão também vem de parte dos procuradores.
Na terça (4), quando Baiano foi levado à sede da PF, procuradores apresentaram ao lobista uma série de documentos que tornariam ainda mais difícil sua saída da prisão –o que o deixou mais abalado.
SONDAS
Enquanto o acordo avança, a atual defesa de Baiano protocolou as alegações finais na ação penal em que ele responde por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na contratação de navios-sonda pela Petrobras.
Na peça, Machado e outros sete advogados pedem a nulidade da delação de Julio Camargo e de seus efeitos, pelo fato de ele ter mudado de versão, em julho, ao envolver Eduardo Cunha.
Quando firmou acordo, em outubro de 2014, Camargo havia negado o pagamento de propina a agentes públicos.