Senadores preveem que Janot será reconduzido
Apesar de investigar senadores na Lava Jato, ele deve obter apoio na Casa
Desafeto, Collor é o único investigado que pretende constranger procurador em sabatina na CCJ na quarta (19)
As denúncias contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Fernando Collor de Mello (PTB-AL) não devem mudar o cenário e impedir a recondução do procurador-geral da república Rodrigo Janot ao cargo na próxima quarta-feira (26), segundo senadores ouvidos pela Folha.
Às vésperas da sabatina na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e da votação no plenário do Senado, o clima é de certeza na aprovação do nome encaminhado pela presidente Dilma Rousseff, tanto entre os governistas quanto na oposição.
Janot, contudo, não vai passar ileso. Desafeto declarado, o senador Collor planeja uma atuação à parte com o objetivo de constrangê-lo. Na quinta-feira, o procurador ofereceu denúncia contra o senador por suposto envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.
PRIMEIRA FILA
A Folha apurou que a intenção de Collor é chegar cedo para garantir seu lugar na primeira fila, em frente à cadeira onde Janot passará a manhã e parte da tarde sendo sabatinado.
A expectativa de quem participará da sabatina, aberta aos 81 senadores –todos podem participar da fase de perguntas, mas somente os 27 titulares votam–, é de que Collor reavive seus discursos de ataque a Janot, rotineiros na tribuna, de onde o parlamentar já xingou o procurador.
Collor deve alegar que Janot não está preparado para o cargo, lembrar que sua gestão é alvo de análise de órgãos como Tribunal de Contas da União –foi o próprio Collor quem pediu a investigação de dois contratos da Procuradoria– e mencionar que uma uma casa do procurador teria supostamente sido alugada por um estelionatário.
"Além de todas essas ações, passíveis de julgamento e condenação do senhor Rodrigo Janot, há uma infindável lista de condutas ilícitas, reprováveis e abusivas, praticadas pela PGR", afirmou Collor na quarta-feira (19) durante sessão da CCJ.
Apesar de não ser integrante da comissão, ele apresentou um voto em separado criticando o nome de Janot.
Embora outros 12 senadores sejam investigados na Operação Lava Jato, não há indicações de que nenhum deles vá se deixar levar por Collor na quarta. Mesmo o investigado presidente do senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não tem se movimentado para impedir a recondução do procurador.
A avaliação geral é que Renan sofreu desgaste quando articulou, nos bastidores, a rejeição da indicação de Edson Fachin ao Supremo. Além de ter sido vencido, a análise de aliados é de que seria melhor o presidente do Senado ter o Ministério Público como aliado e não como opositor.
Diferentemente do que ocorreu na sabatina de Fachin, o Planalto não tem munido governistas nem orientado que se arquitetem blindagens ao sabatinado.
Líderes petistas e outros aliados acreditam que possa haver "traições" de última hora e que a votação seja apertada –são necessários 14 votos na Comissão de Constituição e Justiça e 41 no plenário– mas ninguém vê um cenário de rejeição a Janot.