Advogado da Lava Jato é investigado pela PF
Suspeita é de que um dos defensores da Odebrecht tenha pagado por informações sigilosas sobre inquéritos
Apuração teve início com depoimento de doleira, que acusou seu antigo advogado, também sob suspeita
Um dos advogados da Odebrecht, Augusto de Arruda Botelho está sob investigação da Polícia Federal sob a suspeita de ter comprado de policiais dossiês com informações sigilosas ou falsas para desqualificar os delegados da Operação Lava Jato e prejudicar as investigações.
Há suspeitas de que anotações encontradas pela PF no bloco de notas do celular do presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, preso desde 19 de junho, possam ter alguma relação com a suposta estratégia ilegal para atrapalhar as apurações.
Um desses textos dizia: "Trabalhar para anular (dissidentes PF...)", o que foi interpretado pela polícia como sinal de que ele pretendia fazer algo para acabar com a investigação. A Odebrecht sempre refutou essa versão.
Os "dissidentes" da anotação, segundo suspeita da PF, podem ser os mesmos policiais que teriam vendido as informações secretas.
A PF colheu indícios de que o preço dos dados sigilosos pode ter variado de R$ 500 mil a R$ 2 milhões. Entre as informações que teriam sido vendidas, estavam datas de prisões e buscas em empreiteiras, o que permitiria às empresas esconder material que poderia ser apreendido.
Um delegado e um ex-agente da PF são os principais suspeitos pela suposta venda, segundo a portaria que instaurou o inquérito. Paulo Renato de Souza Herrera foi um dos primeiros críticos dos delegados da Lava Jato e está afastado para tratamento psicológico. O ex-agente é Rodrigo Gnazzo.
Outro advogado, Marden Maués, que atuou na defesa da doleira Nelma Kodama, também aparece na investigação sob suspeita de que teria ajudado os policiais a negociar informações secretas.
Botelho e Maués refutam as suspeitas e dizem que o inquérito é uma tentativa da PF de constrangê-los por terem apontado irregularidades na Lava Jato (leia texto abaixo).
Dois advogados de Curitiba, ouvidos pela Folha sob a condição de que seus nomes não seriam revelados, disseram que foram procurados pelos policiais investigados.
Além de dossiês, um deles oferecia os serviços de um hacker que dizia ser capaz de invadir computadores da PF em Curitiba, nos quais estão armazenados dados da Lava Jato, e alterar informações ali armazenadas. Os advogados dizem ter recusado a oferta.
DOLEIRA
Um dos indícios apontados pela PF de que houve venda de informações foi a publicação de uma reportagem sobre mensagens que os delegados da Lava Jato trocavam num grupo fechado do Facebook.
Como só policiais da Lava Jato faziam parte do grupo, a suspeita é que o delegado investigado tenha vendido essas informações para desqualificar politicamente o grupo.
As mensagens mostravam os delegados elogiando o então candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, e criticando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Numa das mensagens, o delegado Márcio Anselmo dizia "alguém segura essa anta, por favor", ao comentar uma notícia sobre Lula.
A reportagem foi publicada em novembro de 2014 pelo jornal "O Estado de S. Paulo".
O inquérito, que corre em segredo de Justiça, foi instaurado a partir de informações prestadas pela doleira Nelma Kodama. Condenada a 18 anos de prisão, Nelma negocia um acordo de delação premiada e prestou depoimentos relatando o que diz ter ouvido de seu antigo advogado, Marden Maués.
Pelo relato de Nelma, Marden se aproximou dos policiais quando eles investigavam a morte de um agente da PF que se enforcou em Curitiba no ano passado, quando seus superiores descobriram que ele se apaixonara pela doleira.
Nelma disse que Maués e Botelho se reuniram em Curitiba e São Paulo para acertar o negócio. Um dos encontros teria ocorrido num motel.
Os dois dizem que se encontraram para tratar de uma causa que iriam defender juntos, sobre a extradição de um colombiano, mas se negaram a comentar sobre o local dessa reunião. A parceria, no entanto, não foi adiante, de acordo com eles.