Tá tudo conectado
Proliferação dos aparelhos conectados à rede abre brecha para hackers, que podem invadir de carros a geladeiras
A "internet das coisas", com geladeiras, carros e relógios conectados à rede, ainda está se consolidando, mas já é alvo de hackers. À medida que esse mercado cresce, aumenta também o risco de ataques e a possibilidade de não estarmos preparados.
No mês passado, o senador americano Edward J. Markey publicou um estudo feito com base em questionamentos enviados a 16 grandes fabricantes de carros. O relatório indica que quase 100% dos carros no mercado americano hoje incluem redes de comunicação sem fio que podem ser vulneráveis a ataques ou roubo de dados pessoais.
Só dois fabricantes souberam descrever reações em tempo real e críveis que os veículos adotariam em caso de invasão de piratas virtuais.
Essas preocupações não são baseadas só em preocupações sobre o futuro. Problemas de segurança já permitiram que hackers invadissem babás eletrônicas e xingassem crianças, além de usar geladeiras e televisões para enviar e-mails indesejados (leia ao lado).
"Quando tivermos mais aparelhos com internet, serão trilhões de conexões. Isso pode ser um risco físico, quando falamos de aparelhos como carros", afirma Gabriel Marão, membro do comitê gestor do Fórum Brasileiro de IoT (internet das coisas).
De acordo a consultoria IDC, até o fim deste ano 130 milhões de dispositivos estarão conectados no Brasil. No mundo, o Gartner estima que 4,9 bilhões de coisas estarão conectadas à internet em 2015 --em 2020, esse número deve chegar a 25 bilhões.
E esse crescimento gera fragilidades. Relatório da HP de 2014 revelou que 70% dos dispositivos conectados mais populares no mercado dos EUA continham sérias vulnerabilidades. Os maiores problemas estão relacionados a privacidade, falta de autorizações suficientes, falhas de criptografia e software inadequados de proteção.
Outra análise, da Symantec, indica que 20% dos aplicativos usados para controlar aparelhos de IoT não possuem criptografia de dados.
Para Renato Opice Blum, advogado e presidente do Conselho de Tecnologia da Informação da Fecomercio-SP, a maioria das pessoas não tem percepção dos perigos.
Uma das preocupações pode ser resolvida com o anteprojeto de lei de Proteção de Dados Pessoais, baseado em legislação europeia, que quer garantir ao cidadão o controle sobre o uso de suas informações pessoais pelo governo e por empresas.
O debate público sobre o anteprojeto de lei fica aberto até 30 de abril. "Mesmo assim, com o aumento dos riscos, inclusive físicos, pode haver necessidade de legislação própria no futuro", explica Opice Blum.
O especialista lembra ainda que os fabricantes de produtos podem ser imputados em caso de invasão de hackers. "Qualquer um que tem conhecimento de que o produto é vulnerável pode ser responsabilizado. Todo defeito gera responsabilidade e isso pode levar a recalls de aparelhos", conclui.