Livro mapeia legado brasileiro nas ruas de Paris
Projetos de Niemeyer e Lúcio Costa estão na obra, além de temporada de dom Pedro 1º na cidade
Trabalho nasceu como guia e virou obra de 'história popular', afirma autor, brasileiro radicado na França
A caminho de Portugal, onde apearia do trono seu irmão Miguel, d. Pedro 1º (1798-1834) assentou acampamento em Paris entre 1831 e 1832, com a mulher, dona Amélia, e a filha Maria da Glória.
Ali, pretendia acumular apoio político, financeiro e logístico para a invasão. Sob a asa do monarca Luís Filipe, foi paparicado pelo "grand monde" tricolor como "imperador tropical" e era presença assídua nas catedrais culturais da época: Comédie Française, Ópera de Paris, teatro Odéon...
As andanças do então ex-imperador do Brasil à beira do Sena abrem o recém-lançado livro "A História do Brasil nas Ruas de Paris" (Casa da Palavra, 480 págs., R$ 59,90), do jornalista radicado na capital francesa Maurício Torres Assumpção, 48.
A pesquisa, desenvolvida ao longo de três anos, resultou em capítulos dedicados à construção de uma capela da Igreja Positivista do Brasil (que seguia os preceitos de Auguste Comte) em pleno Marais em 1905; à temporada parisiense de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) no começo dos anos 1920; e à missão conferida quatro décadas depois a Oscar Niemeyer (1907-2012) de desenhar a nova sede do Partido Comunista Francês, entre outros temas.
"Aos poucos, me dei conta de que, por trás de cada placa comemorativa [do feito de um brasileiro], iria encontrar histórias tão pitorescas que não ia dar para fazer um mero guia de cem páginas", conta Assumpção. "Acabou virando uma obra de história popular, à la Laurentino Gomes [de best-sellers como 1808']."
O formato de guia sobreviveu entretanto na seção de verbetes que encerra cada capítulo, com informações sobre como chegar aos locais ligados à história dos personagens retratados. Segundo o jornalista, o rastro deixado por eles na cidade é o da inovação, "seja nas proposições inéditas do traço de Lucio Costa (1902-1998) e Niemeyer, seja pelo viés do exotismo das partituras do Villa".
A lista de "candidatos" a um posto no livro bateu na casa dos 30 e chegou a incluir o ex-jogador Raí, considerado pela imprensa local um dos maiores da história do Paris Saint-Germain. Talvez ele seja escalado para o segundo volume.
O tomo deve iluminar também as biografias de aristocratas brasileiros que aportaram na Paris do século 19, como Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930), namorada de Joaquim Nabuco, e a escritora e professora Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885), precursora do feminismo.
Antes disso, o elenco do primeiro calhamaço pode ir parar na televisão. Assumpção negocia com o GNT a produção de uma série.
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