Opinião
Sensualidade tem a ver com ser capaz de relaxar, não com nudez
PELO FUROR QUE O TOPLESS CAUSA NO BRASIL, UMA PRAIA DE NUDISMO PODERIA SER TESTE DEFINITIVO PARA NOSSO PURITANISMO DE FACHADA
ZECA CAMARGO COLUNISTA DA FOLHANa sua frente, depois de uma boa hora de caminhada sob um tórrido sol mediterrâneo, uma bifurcação e duas placas: Paradise e Super Paradise. Você tinha um só dia naquela ilha grega. Não precisa pensar muito para adivinhar qual eu escolhi visitar...
Não havia nenhuma indicação de que seria uma praia de nudismo. Não fui à Grécia para isso --minha experiência em Santorini não me educou em nada nesse sentido: fiquei encantado com a ilha por sua estupenda beleza natural. Mas eis que me vi diante de uma pequena multidão sem roupa. Meio se saber o que fazer, e ainda de sunga, imediatamente rebatizei o lugar de "Super Purgatório"...
Logo percebi que eu era o único constrangido. Todos ali eram indiferentes não só à minha inibição como à falta dela no resto dos frequentadores. Gente de todas as idades, todos os sexos, todos os tons de pele --gente que já tinha negociado a vida inteira com a gravidade e, àquela altura, já não se importava mais em perder a batalha contra ela.
Eu imaginava --talvez com minha "cabeça de brasileiro"-- que, para um novato, o mais difícil seria administrar a libido, mas a segunda surpresa que tive, depois do choque da normalidade de ver tantos corpos nus de uma vez, foi a ausência de qualquer manifestação sensual.
Nas nossas areias, que desfrutamos praticamente nus, mal conseguimos imaginar o que seria conviver com a exposição total. Não tenho a experiência de visitar uma praia de nudismo por aqui, mas pelo furor que um simples topless costuma causar no Brasil --uma "ironia cultural"-- meu palpite é que um espaço assim possa ser um teste definitivo para nosso puritanismo de fachada.
Lá em Super Paradise não havia espaço para isso. Devo ter ficado uma boas quatro horas por lá. Passei o tempo lendo, nadando, olhando e até cochilando... E fui embora sem uma boa história.
Ela veio alguns anos depois, na mesma Grécia, mas durante uma viagem à Turquia. Peguei um barco para passar o dia em Samos e novamente fui pego de surpresa ao descobrir que a praia de lá, bem diferente das turcas que visitava, era de nudismo.
O cenário lembrava o de Super Paradise. Mas minha descontração, conquistada com a experiência anterior, abriu caminho para um episódio que não cabe descrever cá neste distinto caderno.
E a lição que fica é que a sensualidade, como sempre, tem muito pouco a ver com a superfície de pele que você mostra --e muito a ver com sua capacidade de relaxar...