Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
06/09/2012 - 18h20

"Discrição não é falta de personalidade", diz ator e diretor argentino

Publicidade

DE SÃO PAULO

Norberto (o ator estreante Fernando Amaral) é um autêntico "gauche na vida". Aos 36, ele trocou um emprego ruim por outro pior, não sabe que rumo dar ao relacionamento com a mulher, tem permanentes dúvidas sobre sua capacidade de ser pai e cultiva uma timidez angustiante mesmo para os padrões dos recatados uruguaios.

Cinesesc flerta com festival argentino e exibe 11 longas portenhos em SP

O protagonista de "Norberto Apenas Tarde", primeiro longa escrito e dirigido por Daniel Hendler, é, no entanto, um personagem muito mais cativante do que digno de pena.

A empatia que Norberto desperta no espectador é mérito de um diretor que se esforçou para ser discreto e levou a sério a previsão do colega brasileiro Marco Ricca de que acabaria tornando-se um ator "insuportável" se não começasse a dirigir. Depois de protagonizar "Cabeça a Prêmio" (2009), de Ricca, Hendler volta a trabalhar com um diretor brasileiro. Ele faz uma participação especial como ator e coproduz "Entre Vales", de Philippe Barcinski, que compete na Première Brasil do Festival do Rio (27/9 a 11/10).

A seguir, trechos da entrevista de Hendler à Folha. (SILVANA ARANTES)

*

Folha - Como você resumiria "Norberto Apenas Tarde"?
Daniel Hendler - Acho que é o retrato de um cara. Ou o retrato de um período particular na vida de um cara que, de repente, se vê obrigado a tomar as rédeas de sua vida. O filme mostra como um sujeito muito sonhador e que vive em negação tem que se virar para mudar e refazer sua vida, para encontrar a si mesmo, o que acaba provocando muita confusão em torno dele.

Divulgação
Fernando Amaral em cena de "Norberto Apenas Tarde", de Daniel Hendler
Fernando Amaral em cena de "Norberto Apenas Tarde", de Daniel Hendler

O filme deixa a impressão de um diretor discreto, mas seguro do que quer. Atores, em geral, preferem a exuberância. Tentar ser um cineasta discreto lhe custou muito trabalho?
A discrição, acho, é como uma timidez na hora de conduzir alguém por áreas desconhecidas. Não me agrada fazer alarde dessa condição de "guia" que tenho que assumir ao dirigir um filme.

Ela também é consequência da soma de várias camadas narrativas, que não poderiam conviver sem essa presença tímida da câmera. A discrição, neste caso, não é falta de personalidade, mas uma forma de se aproximar da essência das coisas, sem alterá-las.

Tentei fazer com que o diretor não fosse visto por trás de cada plano, comentando tudo e enviesando o olhar do espectador. Em vez disso, tentei deixar pistas para que o espectador construísse seu próprio relato, no sentido mais apropriado

Se você imaginasse que, assim como a vida de Norberto, a história da Argentina até aqui foi um ensaio, como escreveria o futuro do país?
Se até aqui foi um ensaio, suponho que continuará sendo. Não tenho como falar do futuro da Argentina ou do Uruguai [Hendler nasceu no Uruguai e vive na Argentina], mas intuo que os obstáculos impostos pelas classes dominantes ao fortalecimento da igualdade de oportunidades e de direitos que existem hoje continuarão existindo.

A experiência de filmar "Cabeça a Prêmio" com Marco Ricca, ator que estreava na direção de longas, o ajudou a preparar "Norberto Apenas Tarde"?
Sim. Falamos muito sobre a questão ator/diretor. Eu já havia dirigido curtas e sempre me senti próximo da direção, mas a passagem para a direção de um longa soa como um salto no vazio.

Eu me lembro que Marco [Ricca], depois de algumas semanas de trabalho, percebendo meu lado mais chato, me disse que, se eu não dirigisse, iria me tornar um ator insuportável. Foi engraçado e acho que acertado.

Como é a colaboração artística entre você e sua mulher, Ana Katz, que já o dirigiu em "Una Novia Errante" e "Los Marziano"?
Sempre que trabalhamos juntos, confiamos muito no trabalho um do outro.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página