Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/10/2012 - 03h18

Nick Cave leva clima sombrio de seus discos para o roteiro de "Os Infratores"

Publicidade

RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO

No disco "Murder Ballads" (1996), o compositor australiano Nick Cave criou letras sobre assassinatos, crimes passionais e serial killers.

Crítica: 'Os Infratores' faz espectador torcer por foras da lei contra os corruptos
Crítica: Australianos recriam gêneros em declaração de amor à música americana

Então, não chega a ser uma surpresa que "Os Infratores", o segundo roteiro de Cave para o diretor e conterrâneo John Hillcoat, reflita a violência e a brutalidade de suas canções.

O longa, que estreia na sexta (12) no Brasil, foi o primeiro de uma série de longas americanos a chocar o último Festival de Cannes com sequências sangrentas --com direito a uma cena de degola impressionante.

"Não me interesso por violência nos filmes, acho a maioria tediosa e chata, mas há algo na maneira de John filmar que acho empolgante e nova", contou Cave durante o festival francês, em maio último.

"A violência de 'Os Infratores' é muito brutal e rápida, mas deixa uma tremenda bagunça para trás."

Richard Foreman, Jr./Divulgação
Cena do filme "Os Infratores"
Cena do filme "Os Infratores"

O interesse do músico por temas mais sombrios vem desde a infância, na pequena Warracknabeal, conhecida por suas ovelhas e por ter feito parte da região assombrada pela gangue de Ned Kelly, uma espécie de Lampião australiano.

"Ele foi morto na cidade vizinha à minha. Esse tipo de violência sempre esteve presente na minha educação."

Mas o que interrompeu o hiato de Cave no cinema --fizera com Hillcoat "A Proposta" (2005)-- foi a chance de adaptar o livro de Matt Bondurant sobre a história real de três irmãos, interpretados por Tom Hardy, Shia LaBeouf e Jason Clarke, que insistiam em produzir bebidas alcoólicas nos EUA dos anos 1930, época da Lei Seca no país.

"O livro é original, porque mostra o início do processo dessa onda de corrupção no interior que depois tomou conta das cidades", diz o roteirista. "Os cineastas são atraídos por esse lado glamouroso dos gângsteres urbanos, mas eu queria falar sobre os trabalhadores."

"Eu cresci com os filmes de máfia dos anos 1970 e era meu sonho fazer um longa diferente de gângster", diz Hillcoat, que ganhou fama por sua adaptação de "A Estrada" (2009), de Cormac McCarthy. "Filmes como 'O Poderoso Chefão' são violentos, mas possuem temas complexos."

TRILHA SONORA

Obviamente que ter Nick Cave na sua equipe influencia a trilha sonora. E a de "Os Infratores" é uma das mais surpreendentes do ano.

Escondidos por baixo do nome "The Bootleggers", Cave e seu parceiro de Grinderman, Warren Ellis, regravaram músicas modernas com o estilo da década de 1930.

"So You'll Aim Towards the Sky", do Grandaddy, virou um bluegrass emocionante na voz da diva country Emmylou Harris. "Notamos que o filme está conectado com tudo que está acontecendo hoje, como corrupção e crise econômica", explica Cave.

"Pegamos músicas modernas para criar uma ilusão oral com versões caipiras delas. 'White Light/White Heat', do Velvet Underground, é sobre anfetaminas, mas usamos Ralph Stanley, um cantor clássico de bluegrass, para brincar com o tempo e a insanidade da Lei Seca."

"O fato de ter Nick Cave como nosso roteirista nos dá uma ligação com outras coisas do filme. É algo especial", afirma Hillcoat.

O músico, por sua vez, não quis saber de acompanhar as filmagens, como normalmente acontece no cinema.

"É um processo diferente de gravar um disco. O trabalho parece nunca terminar. Isso pode ser frustrante", afirma o cantor, que está gravando um novo álbum com a banda Bad Seeds, o primeiro desde "Dig, Lazarus, Dig!!!", de 2008.

"É um prazer e um alívio voltar a trabalhar na sanidade da indústria fonográfica, onde as pessoas comportam-se como seres humanos", diz Cave, com um sorriso sarcástico no rosto.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página