“Mãe”, grita desesperado um jovem de 15 anos. Mas seu clamor é inútil, e a partida da figura materna marca o personagem-título de “Sócrates” logo na abertura do longa de Alexandre Moratto. O protagonista de Christian Malheiros mal tem tempo de viver o luto.
Sua nova situação exige uma urgência dele e da narrativa, que adquire o ritmo de um thriller e deixa poucas brechas para as lágrimas, apesar do drama constante. O resultado é um filme consciente de suas limitações orçamentárias e daquilo que é importante contar em seus 71 minutos.
A princípio, Sócrates tenta manter a normalidade que ainda lhe é possível, mas o garoto negro da periferia de Santos tem dificuldades para conseguir emprego e pagar o aluguel. O fato de ser homossexual também se torna um complicador na sua luta por sobrevivência em um ambiente onde reina o conservadorismo e o preconceito.
Seus esforços parecem em vão e o personagem entra em uma espiral de tormenta econômica, social e emocional em que até a busca pelo mais básico se torna complicado —embora o cineasta evite a exploração desmedida de sua miséria.
A origem da produção contribui para isso, graças à vivência periférica da corroteirista Thayná Mantesso e dos profissionais vindos do Instituto Querô.
Se Sócrates não encontra consolo em ninguém, mesmo quando acredita ter um companheiro ao seu lado, o filme coloca o espectador próximo dele, desde a escolha de Moratto pela câmera colada no protagonista até a intimidade de simples fios de cabelo. O desfoque da fotografia também contribui para traduzir visualmente a falta de perspectiva e estado de confusão desse adolescente.
A partir dessa estética, a interpretação de Malheiros se torna fundamental à obra. O ator da série “Sintonia” corresponde à exigência conduzindo o público a todo o desespero, ânsia, desejos e dor do seu personagem apenas com o olhar. Junto com o colega de cena Tales Ordakji, que também se destaca na pele de Maicon, sua atuação sustenta o longa frente a um elenco de apoio sem a mesma consistência.
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