MARINA DIAS
MAELI PRADO
DE BRASÍLIA

A disputa entre o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pelo posto de candidato governista ao Planalto contaminou o debate sobre o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor's.

Nesta quinta-feira (11), horas depois do anúncio de que a nota passaria de "BB" para "BB-", Maia e Meirelles deram novos –e fortes–contornos à briga política que travam há semanas na tentativa de se viabilizarem como o nome de centro para as eleições.

Meirelles transferiu ao Congresso o ônus pelo atraso na aprovação de medidas do ajuste, como a reforma da Previdência. A demora no encaminhamento da proposta e as incertezas eleitorais estão entre os fatores que pesaram na decisão da agência.

Segundo a Folha apurou, o presidente da Câmara ficou bastante irritado com o discurso do ministro, disse que a tese não era correta e, por fim, telefonou ao presidente Michel Temer, ainda na noite de quinta, acusando Meirelles de ter "errado no tom".

Em seguida, a nota oficial da Fazenda, que inicialmente transferia a responsabilidade pela não aprovação das medidas ao Congresso, acrescentou uma única frase ao texto, apenas para fazer um afago aos parlamentares.

"Sempre contamos com o apoio e com a aprovação das medidas necessárias para o país pelo Congresso e temos certeza de que o mesmo continuará a trabalhar em favor das reformas e do ajuste fiscal fundamentais para o Brasil", dizia o último parágrafo.

Aliados de Maia e Meirelles admitem que os ânimos estão exaltados por conta da disputa eleitoral –ambos querem capitalizar uma possível recuperação econômica para ganhar força e votos.

Apesar do desgaste, a ordem no governo é baixar a temperatura publicamente.

Nesta sexta-feira (12), Meirelles se reuniu com Temer e convocou uma entrevista coletiva para dizer que a redução da nota de crédito do Brasil não pode ser transformada em um evento político.

"Não devemos transformar isso [o rebaixamento] em uma grande questão política no Brasil, o importante agora é fazer as reformas", afirmou.

"Em relação às discussões sobre quem é culpado, quem não é culpado, eu acho o seguinte: estamos falando aqui do que a agência diz, quais as razões pelas quais ela fez o downgrade", completou o ministro ao classificar a decisão como "técnica, normal".

Meirelles disse que o rebaixamento da nota pela Standard & Poor's não é responsabilidade "deste ou daquele" e que o Congresso tem conseguido aprovar reformas "fundamentais para o país".

O ministro ponderou que o rebaixamento estava "precificado" pelo mercado: dólar e juros de longo prazo caíram e a bolsa ficou estável.

Sobre a possível candidatura de Maia –e o impacto dela na reforma–, Meirelles declarou que "é absolutamente legítimo, normal e saudável que líderes relevantes possam considerar a possibilidade de postular a Presidência".

Auxiliares do ministro viram com preocupação a intensificação dos ataques entre ele e Maia. A avaliação é de que o presidente da Câmara tem conseguido aglutinar em torno de sua possível candidatura partidos da base –como PP e Solidariedade–, o que pode isolar Meirelles.

Ambos, porém, aparecem nas pesquisas de intenção de voto com, no máximo, 2%.

Esse não foi o primeiro conflito entre eles. Na semana passada, discutiram sobre a flexibilização da "regra de ouro", que impede o país de tomar crédito em volume superior ao investimento. Maia diz que a equipe econômica pediu que o Congresso debatesse o mecanismo e que, quando viu a repercussão negativa, o ministro recuou.

Crédito: Editoria de arte/Folhapress
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