Descrição de chapéu MPME

Público mais velho também quer games, aplicativos e repúblicas

Empresas miram quem tem mais de 60 anos com produtos que vão muito além da área da saúde

Fernanda Perrin
São Paulo

O envelhecimento da população brasileira impulsiona a demanda por produtos e serviços voltados para os mais velhos que vão muito além da área da saúde.

Um exemplo é a ISGame, escola de games com cursos para crianças, jovens e pessoas com mais de 50 anos.

A metodologia aplicada é a mesma para todas as faixas etárias: algumas noções básicas são apresentadas, e o aluno vai aprendendo com os colegas a criar seu próprio game.

Fábio Ota, fundador da empresa, diz que o curso ajuda a promover a saúde mental, melhorando a capacidade cognitiva, a memória, a concentração e dando mais qualidade de vida aos idosos.

“Se a gente falasse que é um curso de games para pessoas mais velhas, não viria ninguém. Acho que teriam preconceito e achariam que seria chato”, afirma Ota.

Ao final de cada módulo, que dura cinco meses, os alunos de todas as turmas se encontram e jogam os games criados uns pelos outros.

Marta Monteiro, 64, e Veronique Forat, 61, sentada, fundadoras da Morar.com.vc, em apartamento em SP
Marta Monteiro (à esq.), 64, e Veronique Forat, 61, fundadoras da Morar.com.vc, em apartamento em SP - Adriano Vizoni/Folhapress

“Quero promover uma integração entre as gerações”, afirma o empresário.

Há turmas em que os alunos pagam R$ 95 por mês e outras em que as aulas são gratuitas para o estudante, uma vez que patrocinadores arcam com todas as despesas.

Já o Morar.com.vc começou com investimento de R$ 10 mil  e o diferencial de conectar pessoas que querem dividir apartamento para “envelhecer cercadas de amigos e de uma rede de apoio”, segundo a sócia Veronique Forat.

A plataforma virtual, que já tem 1.100 inscritos, aceita pessoas de todas as idades, mas pelo menos a metade dos usuários é composta por clientes com mais de 45 anos.

“Muita gente diz que se sente sozinha ou quer ter uma vida social mais ativa, e isso é fundamental para a longevidade”, afirma Veronique. Sem investir em marketing, a empresa diz receber ao menos 50 novas inscrições por mês.

Já na EuVô o foco é a mobilidade para a terceira idade. A startup de São Carlos (a 235 quilômetros de São Paulo) investiu até agora R$ 100 mil para desenvolver um aplicativo cuja proposta é ser uma espécie de Uber para idosos.

Vitoria Abdelnur, uma das fundadoras da empresa, explica que a ferramenta terá duas interfaces. De acordo com ela, as letras da plataforma serão maiores e haverá um áudio explicando como usar, caso o usuário tenha dificuldade de entender as instruções.

O aplicativo deve ser lançado no segundo semestre, mas a empresa já funciona desde o ano passado. 

Vitoria e o irmão, Gabriel, desenvolveram um treinamento para motoristas pensando no público-alvo, com aulas de gerontologia, primeiros socorros e psicologia.

Há dois tipos de serviço: o leva e traz, com ou sem espera, e o de acompanhamento, em que o motorista vai junto com o cliente na consulta ou às compras no supermercado.

A ISGame e a EuVô foram selecionadas no mês passado para passar por um programa de aceleração, após participação na Chamada de Negócios da Longevidade, que mapeou 141 empresas com foco nesse segmento no Brasil.

A iniciativa foi de três grandes organizações que apostam no potencial dos negócios para mais velhos: a americana Aging2.0, a consultoria de marketing Hype60+ e a aceleradora Ativen.

“Essa questão toda vem para mostrar que a velhice pode ser mais bacana e mais bem vivida quando você deixa de pensar nela como algo horroroso. Aí começam a surgir necessidades óbvias de produtos e serviços, porque são todos consumidores”, afirma Sérgio Estrada, embaixador no Brasil da Aging2.0.

Parceira do Google for Entrepreneurs, a Aging2.0 quer expandir a temática de saúde e incluir também bem-estar e estilo de vida.

 A aceleradora informa que pretende investir nas áreas de mobilidade, vida social, rotina e até no período chamado de “end of life” (“fim da vida”).

“É um mercado ainda novo, falta muita coisa. Minha sugestão é passar um tempo com pessoas mais velhas para entendê-las. Não adianta criar um negócio na sala da faculdade ou dentro do seu escritório”, diz Layla Vallias, co-fundadora da Hype60+, consultoria de marketing especializada nessa faixa etária.

De acordo com Layla, o empreendedor que quiser entrar nesse mercado deve estudar bem a rotina e a linguagem do usuário e simplificar ao máximo o seu produto. 

Para ela, também é preciso ter em mente que esse é um consumidor muito experiente, que já viu de tudo e, portanto, costuma ser mais cético e pragmático.

Colaborou Anna Rangel

 

O mercado de longevidade

Quem é o público-alvo…

30 milhões
de brasileiros com mais de 60 anos

15%
da população

R$ 1 trilhão
de renda, somados

20%
do consumo no Brasil

…e quem são as empresas

59%
localizadas em SP

73%
têm menos de 5 anos de operação

22%
estão em fase de organização

14%
dos negócios envolvem internet das coisas

Fontes: Aging2.0, Hype60+ e Ativen

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