Grupo Soma assina acordo para comprar Cia Hering

Com operação, Cia Hering é avaliada em R$ 5,3 bi; negócio aguarda aval do Cade

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São Paulo | Reuters

O Grupo Soma, dono das marcas Farm e Animale, anunciou nesta segunda-feira (26) que fechou acordo para incorporar a Cia Hering, avaliada em cerca de R$ 5,3 bilhões com a operação.

A aquisição ocorre no momento em que empresas de moda no Brasil têm sido afetadas, em diferentes frentes, pelos efeitos econômicos da Covid-19. O distanciamento social e o fechamento do comércio exigem investimentos em plataformas digitais. Além disso, há ruptura na cadeia de fornecimento, o que leva à falta de insumos à alta de preços. Os consumidores alteraram seus hábitos, o que também demanda revisões nas linhas de produtos.

O valor definido equivale ao Grupo Soma pagar aos acionistas da Cia Hering um ágio de cerca de 43,5%, tomando como base o preço de fechamento das ações das empresas na última sexta-feira (23) na B3. O valor também ficou bem acima dos R$ 3 bilhões oferecidos pela Arezzo na semana passada em um processo considerado hostil.

Pela reação dos investidores na Bolsa, a leitura inicial é que Hering se saiu bem na negociação. Após o anúncio, as ações da Hering chegaram a subir mais de 36%, fechando em alta de 26,19%. Já os papéis do Soma, que oscilaram entre queda de 12% e alta de 5%, caíram 10,14%.

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Grupo Soma anunciou nesta acordo para incorporar a Cia Hering, avaliada em cerca de R$ 5,3 bi com a operação - Divulgação

Em conversa com investidores na tarde de hoje, o presidente do Soma, Roberto Jatahy, apontou alguns dos pilares do negócio que pegou de surpresa o mercado e que, do ponto de vista de sua amplitude, multiplica em 3,8 vezes o mercado endereçável da companhia, que passaria a alcançar uma fatia de R$ 110 bilhões do consumo de vestuário brasileiro.

Pelo lado da marca centenária, um dos ganhos seria transferência de expertise do Soma na integração dos canais digitais e da tecnologia empregada na melhor gestão dos estoques, o chamado omnichannel. Além disso, a estratégia ainda coloca o design como pilar de crescimento da Hering, que há anos patina na ideia de ampliar a oferta para além das peças básicas.

Na videochamada, na qual também participaram Fabio e Thiago Hering, uma colaboração com a Farm foi apontada como um dos primeiros resultados práticos da associação para dar início à estratégia de agregar valor ao portfólio da Hering.

A fusão, por outro lado, daria ao grupo carioca a possibilidade de aumentar a capacidade produtiva e o manejo das linhas de produto dependentes de insumos dos quais a empresa catarinense detém domínio e escala, com foco principalmente na malharia.

“Para além da cadeia de suprimentos, a Hering nos traz conhecimento em gestão de franquia. Algumas marcas do grupo podem se beneficiar desse modelo que esperamos aprender com Thiago”, disse Jatahy.

Segundo Thiago Hering, também há uma expectativa de “alta transferência de know how [da Hering] para o masculino do grupo, além de um plano de execução para fortalecer o segmento de moda íntima da companhia”.

A ideia de mirar o mercado masculino sugere que o Soma planeja investimentos em sua marca Foxton para que, com ganho de escala e capacidade fabril, possa bater de frente com a Reserva, do grupo concorrente Arezzo.

O quadro hierárquico foi outro ponto que pesou na escolha pela oferta do Soma. Após a conclusão, Fabio Hering ocupará a cadeia de presidente do conselho, Roberto Jatahy, a de presidente do grupo, e Thiago, a de presidente da Hering, algo já planejado anteriormente ao acordo.

A operação ainda aguarda o aval do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para ser concluída, algo que as companhias esperam que ocorra até o dia 30 de junho.

No comunicado divulgado para esclarecer investidores, ambas as companhias afirmaram que os acionistas da Hering receberão uma ação ordinária (com direito a voto) e uma preferencial (sem direito a voto) da nova empresa por cada ação que detêm atualmente.

Com a operação, o Grupo Soma pagará R$ 9,630957 à vista e R$ 1,625107 por ação ordinária para cada ação com direito a voto da Hering.

As companhias assumiram um compromisso de exclusividade, cujo descumprimento prevê pagamento de multa de R$ 250 milhões.

Ainda de acordo com o comunicado ao mercado, os detalhes sobre o direito de recesso, incluindo o valor do reembolso, ainda serão informados. O direito de recesso (também conhecido como direito de retirada) tem o objetivo de proteger o acionista minoritário contra mudanças substanciais na estrutura da companhia ou contra a redução dos direitos assegurados de suas ações.

Por meio do direito de recesso, o acionista minoritário fica desobrigado de permanecer sócio de uma companhia diferente daquela à qual se associou ao adquirir as ações e tem o direito de receber um reembolso correspondente aos papéis então de sua propriedade.

As companhias também afirmaram que avaliam a operação como "transformacional", promovendo uma consolidação de uma plataforma de marcas no varejo de moda, ampliando o mercado, conectando diferentes audiências e abrindo um novo espaço de crescimento, dado os portfólios complementares das empresas.

O BR Partners atuou como assessor financeiro da Hering para a operação. A G5 Partners e o Santander foram os assessores financeiros do Grupo Soma. Os escritórios de advocacia Machado Meyer e Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados estão atuando como assessores legais da Companhia e do Grupo Soma, respectivamente.

O anúncio ocorre quase duas semanas após a Cia Hering ter informado que recusou uma proposta não solicitada de fusão feita pela Arezzo.

De acordo com detalhes apresentados pela Arezzo na época, a proposta de combinação de negócios contemplava a incorporação de ações da Cia Hering, em uma relação de substituição de 0,1686 nova ação da Arezzo para cada 1 ação da Hering, mais uma parcela em dinheiro de R$ 1,3 bilhão.

Em sua negativa, a Hering havia dito que o conselho de administração, com assessoria do BR Partners e Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, havia decidido por unanimidade rejeitar a proposta, por considerar que ela não atende ao melhor interesse dos acionistas e da própria companhia.

(Com Reuters)


RAIO-X DA HERING EM 2020

Lucro líquido
R$ 343 milhões

Receita líquida de vendas
R$ 1,074 bilhão

Faturamento do ecommerce
R$ 70,7 milhões

Abertura de lojas (todas as marcas)
130

Principais concorrentes
Lojas Renner, C&A, Marisa

RAIO-X DO GRUPO SOMA EM 2020

Lucro líquido
R$ 34,1 milhões

Receita líquida de vendas
R$ 1,244 bilhão

Faturamento do varejo + ecommerce
R$ 1,170 bilhão

Abertura de lojas (todas as marcas)
264

Principais concorrentes
Arezzo, Inbrands, Restoque

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