Descrição de chapéu The New York Times

Mudança de presidente na Casa Branca é operação militar de poucas horas

JULIE HIRSCHFELD DAVIS
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Saem as amêndoas, entram os Doritos.

Exatamente às 12h01 de sexta-feira (20), assim que Donald Trump fizer o juramento de presidente e Barack Obama deixar o cargo, dezenas de funcionários públicos federais entrarão em ação na Casa Branca para substituir os confortos de um comandante-em-chefe —salgadinhos, artigos de toalete, obras de arte e móveis preferidos— pelos de seu sucessor.

O processo, que leva meses em planejamento, mas poucas horas de execução em estilo militar, se desdobra principalmente longe da vista do público, enquanto os americanos e o mundo se concentram no protocolo do dia da posse: o juramento presidencial e discurso no Capitólio, o desfile pela Pennsylvania Avenue, os bailes de gala.

Para as cerca de cem pessoas que trabalham na Casa Branca e os empregados disponíveis para ajudá-las na mudança que talvez seja a mais importante do mundo, os eventos oficiais também servem como úteis distrações que mantêm o presidente de saída e sua família e os próximos ocupantes da mansão afastados durante o trabalho.

"É muito agitado —você está de pé constantemente, garantindo que as coisas vão para o lugar certo e da maneira certa, e há muito pouco tempo disponível", disse Betty Monkman, uma curadora da Casa Branca há mais de 30 anos que ajudou a supervisionar a mudança em 2001, quando Bill Clinton saía e George W. Bush entrava.

"A governanta e as empregadas estão todas colocando as roupas no closet e os cosméticos nos banheiros, a equipe da cozinha prepara os alimentos. Há muita coisa acontecendo."

Obama e sua mulher, Michelle, que pretendem se mudar para uma casa a menos de 3 quilômetros da Casa Branca, para continuarem em Washington enquanto sua filha mais moça, Sasha, termina o colegial, já começaram a levar artigos pessoais para sua nova casa.

Caminhões de mudança, incluindo um de uma empresa especializada em guardar e transportar obras de arte, estiveram estacionados diante da residência no bairro elegante de Kalorama, e trabalhadores foram fotografados carregando para dentro grandes caixas de papelão.

Mas boa parte do trabalho na Casa Branca não pode ocorrer enquanto não houver a transferência de poder, pouco depois do meio-dia, quando dois caminhões de mudança entrarão pelos acessos ao redor do Gramado Sul —um para entregar os objetos do novo presidente e o outro para carregar os pertences do chefe do Executivo que parte.

A nostalgia se mistura ao frenesi. "É um momento emocionante", disse Anita McBride, que serviu como chefe de pessoal de Laura Bush, inclusive durante a transmissão aos Obama em 2009.

CORRERIA

Na manhã da posse, antes que o presidente de saída receba seu sucessor para um chá no meio da manhã, membros da equipe de residência da Casa Branca –mordomos, empregadas, cozinheiros, jardineiros e outros– geralmente se reúnem na Sala Leste para se despedir do casal a que serviram, muitas vezes durante a maior parte de uma década.

"Pode ser comovente", disse McBride.

As mudanças vão de coloquiais a significativas. Obama, cuja obsessão familiar por alimentação saudável foi bem documentada, mantém uma grande tigela de maçãs sobre uma mesa no Salão Oval e um estoque de amêndoas para seu petisco tarde da noite enquanto lê os despachos.

Trump, um fã de fast food, é conhecido por preferir não apenas Doritos, como batatas fritas Lays. O porteiro-chefe é encarregado de informar à equipe da cozinha sobre tais solicitações antecipadamente, para que a despensa no andar térreo da Casa Branca seja adequadamente abastecida.

A equipe de Trump não quis comentar que pedidos ele fez para estocar a cozinha ou redecorar a casa para seus primeiros dias lá, e não está claro quanto tempo o próximo presidente —que fica mais à vontade em seu luxuoso apartamento de cobertura na Trump Tower, com seus detalhes folheados a ouro–pretende passar lá.

Sua mulher, Melania, que se reuniu no dia 3 de janeiro na Casa Branca com o porteiro e a curadora, pretende viver em Nova York nos primeiros meses da presidência Trump, para que o filho do casal, Barron, possa terminar o ano em sua escola particular em Manhattan.

A Casa Branca se esvazia de tudo, menos uma equipe mínima de indicados políticos durante a posse no Capitólio. Amy Zantzinger, uma secretária social de Laura Bush, lembra que saiu pelo portão da Casa Branca pouco antes das 12h naquele dia em 2009, enquanto Michael Smith, o decorador dos Obama, entrava.

"A prioridade da senhora Obama naquele dia era conseguir arrumar o quarto das meninas a tempo para que dormissem lá naquela noite", disse Zantzinger sobre as primeiras-filhas, então com 7 e 10 anos.

Um oficial de transição próximo a Melania Trump, falando sob a condição do anonimato porque não estava autorizado a falar sobre o processo de mudança, disse que ela estava trabalhando estreitamente com um designer de interiores para refazer partes da residência na Casa Branca.

(A autoridade também não quis falar sobre relatos de que Melania, que já foi modelo, instalaria uma bem iluminada "sala de glamour" para fazer os penteados e a maquiagem.)

Ela convocou Jessica Boulanger, uma vice-presidente sênior de comunicações da Business Roundtable, que se interessa por moda, como voluntária para ajudá-la a formar a equipe da Ala Leste.

Donald Trump está pretendendo trocar as cortinas do Salão Oval –hoje em um tom escuro de vermelho– pelas usadas por um presidente anterior, segundo uma pessoa a par da troca.

O novo presidente e a primeira-dama geralmente voltam à Casa Branca depois de um almoço no Capitólio e são recebidos pelo porteiro-chefe, que se certifica de que eles fiquem confortáveis por alguns momentos antes de rumar novamente para uma posição que dá para a Pennsylvania Avenue, para assistirem ao desfile da posse.

"Eles vão entrar e sair rapidamente, o que também é bom", disse Monkman, "porque ainda há muita coisa a fazer."

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.