Conselho de Segurança Nacional dos EUA vive incerteza após saída de Flynn

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

O Conselho de Segurança Nacional do governo do presidente Donald Trump já era um problema antes de se tornar um problema maior ainda, com a queda do homem que o comandava, o general reformado Michael Flynn, na última segunda-feira (13).

O comitê, que reúne os altos representantes de todas as agências norte-americanas com foco em segurança nacional, é o principal órgão para deliberação sobre o tema e sobre política externa –e por esse motivo as mudanças feitas por Trump em sua estrutura são alvo de crítica até hoje.

Na mais controversa delas, o republicano colocou seu estrategista-chefe, Stephen Bannon, como membro permanente do Conselho, e "rebaixou" o comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Joseph Dunford, e o diretor de Inteligência Nacional, posto ocupado interinamente por Michael Dempsey, fazendo com que eles sejam convocados apenas quando o assunto em questão lhe disser respeito diretamente.

O cargo ocupado por Dunford é o mais alto das Forças Armadas americanas e o principal interlocutor militar com a Casa Branca.

Trump havia mudado o status do diretor da CIA (inteligência americana) também de dentro do Conselho, mas resolveu torná-lo um membro permanente de novo após uma enxurrada de críticas.

Para a especialista em Segurança Nacional do Council on Foreign Relations Rebecca Lissner, a inclusão de Bannon no conselho é "profundamente preocupante".

"Não há nenhum precedente de que assessores políticos participem nas reuniões do Conselho de Segurança Nacional como membros permanentes", disse. "Além das opiniões pessoais de Bannon, essa é uma questão fundamental, porque as decisões de segurança nacional devem ser feitas principalmente sobre os méritos substantivos e não políticos, uma vez que vidas estão literalmente em jogo."

Bannon é mais conhecido por suas posições de política doméstica, com uma visão nacionalista e populista sobre imigração e comércio. Mas seu interesse pela política externa pode ser visto a partir da cobertura do site de notícias ultraconservador Breitbart, que ele dirigia até agosto: apoio a movimentos nacionalistas em outros países e a defesa de uma abordagem mais radical contra o terrorismo, que inclui apertar o cerco contra comunidades islâmicas.

O cientista politico Darrell West, do centro de estudos Brookings, concorda que a presença de Bannon pode ser nociva. "Ter um consultor político no Conselho é ter o risco de politizar as deliberações do conselho e fazer más escolhas. É mais importante que os militares e as pessoas de inteligência tomem decisões do que os assessores políticos", disse à Folha.

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, ao justificar a mudança que inclui Bannon lembrou que ele foi um oficial da Marinha, "com um tremendo entendimento do mundo e do cenário geopolítico de hoje".

Com a saída de Flynn, após um escândalo envolvendo a discussão de sanções com o governo russo antes mesmo de Trump assumir, o temor é que Bannon ganhe ainda mais espaço nessa transição –e em meio a tensões crescentes com a Coreia do Norte e com o Irã.

Por enquanto, assume o posto interinamente o general Joseph Keith Kellogg, que serviu por mais de 30 anos nas Forças Armadas, tendo ajudado a comandar a coalizão que governou o Iraque em 2003 e 2004. Segundo a Bloomberg, ele depois trabalhou para uma empresa de defesa com contratos com o governo americano.

De acordo com a Associated Press, Kellogg estaria entre as opções para substituir Flynn definitivamente. As outras seriam Robert Harward, ex-número dois do Comando Central –braço das Forças Armadas responsável por áreas que incluem Iraque e Afeganistão– e o ex-diretor da CIA David Petraeus, que deixou o posto em 2012 depois da revelação de que ele havia passado informações secretas para sua biógrafa –que também era sua amante.

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