Trump muda vida dos americanos também com medidas menores

JOHN WHITESIDE
DA REUTERS

Mesmo sem ter concretizado suas maiores promessas de campanha, o presidente Donald Trump já começou a reformular a vida americana de maneiras muito visíveis e outras nem tanto.

Nos nove meses em que está no poder, Trump agressivamente revogou regulamentos, emitiu ordens executivas e mudou diretrizes de implementação de medidas, reescrevendo as normas que regem indústrias que vão da energética à da aviação civil e que abrangem desde agressões sexuais em universidades até proteção antidiscriminação para estudantes transgêneros.

O chamado "efeito Trump" transcende de longe as políticas públicas. Após uma campanha que derrubou precedentes, Trump vem redefinindo o comportamento presidencial, com seu uso nada convencional e às vezes agressivo do Twitter, sua recusa em afastar-se de seus negócios pessoais e o fato de ter membros de sua família entre seus principais assessores.

Trump perturbou países aliados de longa data com suas declarações às vezes belicosas e vem alimentando divisões sociais e políticas dentro dos EUA, mais recentemente com seus ataques a jogadores profissionais de futebol americano, em sua maioria negros, que se ajoelham enquanto é tocado o hino nacional, como forma de protesto contra a injustiça racial.

Muitas de suas maiores propostas de política pública, incluindo ter proibido que transgêneros sirvam nas Forças Armadas, a retirada dos EUA do acordo de Paris contra as mudanças climáticas e o cancelamento de um programa da era Obama que protegia de deportação adultos jovens levados aos EUA ilegalmente quando crianças, continuam em um limbo ou sob revisão por uma administração em que o traçado das políticas públicas muitas vezes é confuso.

Mas Trump vem encontrando maneiras de avançar em algumas outras iniciativas paralisadas. Embora a revogação da Obamacare não tenha avançado no Congresso, suas ameaças de cortar os subsídios que ajudam a cobrir as despesas com saúde de consumidores de baixa renda geraram tanta incerteza que os grandes convênios médicos se retiraram de alguns mercados estaduais ou pediram mensalidades muito mais altas para 2018.

IMPACTO

A administração vem cortando a publicidade e as verbas de grupos comunitários que ajudam pessoas a assinar planos médicos, gerando o receio de que muitas pessoas deixem de pagar planos de saúde ou de renovar seus planos no próximo ano.

Embora os planos de construção de um muro na fronteira mexicana estejam parados no Congresso, o discurso intransigente de Trump parece estar exercendo efeito sobre as travessias ilegais da fronteira; o número de apreensões de pessoas que atravessam a fronteira sudoeste ilegalmente diminuiu 63%, de 42 mil em janeiro para quase 16 mil em abril. Desde abril, o número começou a subir um pouco outra vez, mas ainda está abaixo dos níveis verificados no ano passado.

A repressão aos imigrantes que vivem ilegalmente no país também levou a um aumento acentuado das detenções dentro dos EUA. Nos cem primeiros dias de Trump no poder, o número de prisões feitas por agentes da imigração subiu quase 40% em relação ao mesmo período do ano passado.

O número de imigrantes sem antecedentes criminais detidos por agentes de imigração subiu mais de 200% entre janeiro e julho deste ano, segundo dados aos quais a Reuters teve acesso.

Uma enxurrada de ações judiciais foi aberta contra a nova administração republicana, com representantes estaduais democratas liderando a investida. Os tribunais federais de instância inferior, repletos de juízes nomeados por Obama, bloquearam várias iniciativas de Trump, pelo menos temporariamente.

Trump foi obrigado a reescrever um decreto anti-imigração que a administração diz que visa proteger as fronteiras federais, depois de as duas primeiras versões terem sido contestadas por críticos para os quais a medida discriminava contra muçulmanos. A versão mais recente restringe a entrada de pessoas vindas de oito países.

É provável que uma das realizações mais duradouras de Trump seja a confirmação do juiz da Suprema Corte Neil Gorsuch, que restaurou a maioria conservadora da corte e que, com 50 anos de idade, provavelmente exercerá seu cargo por décadas.

"Acho que Trump na realidade já realizou muita coisa", disse Tommy Binion, diretor de relações congressionais e executivas do think tank conservador Heritage Foundation. "Há muito com que os conservadores podem se alegrar. E sou otimista: acredito que haverá muito mais."

Tradução de CLARA ALLAIN

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