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Cessar-fogo anunciado por grupo basco ETA é visto como "insuficiente" e "ambíguo"
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DE SÃO PAULO
O grupo separatista basco ETA anunciou um cessar-fogo neste domingo, mas o governo e os principais partidos políticos da Espanha classificaram a declaração como "insuficiente" e "ambígua", e pediram que a organização renuncie oficialmente à violência de uma vez por todas.
O ETA anunciou neste domingo um cessar-fogo em um vídeo divulgado pela televisão pública britânica BBC e pelo jornal basco "Gara", após um ano sem atentados, mas sem informar por quanto tempo nem se abandona em definitivo as armas. O grupo já matou mais de 850 pessoas em meio século de luta pela criação de um Estado independente no norte da Espanha e sudoeste da França.
Veja vídeo atribuído ao grupo ETA
Grupo basco ETA anuncia cessar-fogo; veja cronologia desde a fundação do grupo
Saiba mais sobre o grupo separatista basco ETA
Reuters | ||
Imagem de vídeo mostra membros do ETA declarando cessar-fogo em local não identificado |
"O anúncio é absolutamente insuficiente porque não responde ao que a imensa maioria da sociedade basca exige e demanda do ETA, que é deixar definitivamente a atividade terrorista", declarou o conselheiro (ministro) basco do Interior, Rodolfo Ares, à imprensa, na primeira avaliação do governo regional basco (socialista).
"O ETA, mais uma vez, faz um comunicado ambíguo e fraudulento", insistiu, antes de admitir, porém, que "qualquer declaração que fala de um cessar, mesmo que seja temporário, dos atentados terroristas tem que ser considerada uma boa notícia".
Ares fez um pedido aos representantes de todos os partidos políticos democráticos, sindicatos, dirigentes institucionais para que não se deixem levar por este anúncio. "Este anúncio pode servir ao ETA e a seu mundo para resolver suas discrepâncias, mas é absolutamente insuficiente", reiterou.
O presidente de governo se mostrou profundamente cético com essa promessa, segundo fontes do Executivo ouvidas pelo jornal espanhol "El Mundo". "Parece-lhe muito pouco", disseram.
MAIS REAÇÕES
Dirigentes dos socialistas no poder e do opositor Partido Popular (PP) assinalaram que o único anúncio que a sociedade espanhola espera do ETA é o de abandono definitivo das armas e da violência.
A secretária de organização do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE), Leire Pajín, disse que o comunicado do grupo separatista é "claramente insuficiente". "Pedimos (ao ETA) o abandono definitivo da violência e das armas e, para isso, sua definitiva dissolução. Isso é o que espera a sociedade espanhola e isso é o que voltamos a pedir ao grupo terrorista ETA", disse Leire, em declarações à RNE.
O vice-secretário de Política Local do Partido Popular, Javier Arenas, fez comentários parecidos.
O líder do grupo Izquierda Unida, Cayo Lara, acolheu o anúncio de trégua do ETA, mas pediu ao grupo que tal medida seja definitiva e não passageira.
O grupo parlamentar do Partido Nacionalista Basco indicou que o comunicado "não é o que o ETA deve à sociedade basca nem o que se esperava" e acrescentou que na segunda-feira analisará o anúncio do grupo separatista com mais profundidade.
Já o principal partido independentista do País Basco francês, Abertzaleen Batasuna (AB), classificou o anúncio como uma "mudança histórica". "Trata-se de uma mudança histórica porque é o resultado de um longo processo interno da esquerda abertzale [patriota, em euskera]", declarou Peio Etcheverry Ainchart, porta-voz do AB, um partido independentista moderado.
Segundo o AB, as decisões da organização separatista armada representam "uma mudança de estratégia político-militar" e mostram a sua vontade de "sair por cima, evitando a rendição".
COMUNICADO
Na gravação, o grupo sustenta que a decisão foi tomada há vários meses a fim de "iniciar um processo democrático". Por enquanto não está claro se esta última declaração do ETA é um cessar-fogo permanente ou temporário.
Nas imagens obtidas pela "BBC" é possível ver três membros encapuzados do grupo sentados em uma mesa com uma bandeira da organização ao fundo. Um deles aparece sentado no meio lendo a declaração, finalizada com a afirmação de que o grupo quer alcançar seus objetivos por meios pacíficos e democráticos.
Em trechos do vídeo, o ETA assinala que o preço de sua difícil luta foi a sobrevivência do País Basco, mas afirma que pagou um preço alto, "com torturas, prisão, exílio e morte".
"O ETA confirma seu compromisso de encontrar uma solução democrática ao conflito. Em seu compromisso com um processo democrático para decidir livremente e de maneira democrática nosso futuro, através do diálogo e de negociações, o ETA está preparado hoje para acordar as condições democráticas mínimas necessárias para iniciar um processo democrático, se assim tiver vontade o governo espanhol", afirma a organização.
O grupo pede aos ativistas políticos bascos que atuem com responsabilidade, afirmando que é necessário dar passos firmes para alcançar o processo democrático. "Porque a porta para uma solução real do conflito ficará aberta quando os direitos do País Basco forem reconhecidos e ratificados", indica o comunicado.
No passado, o ETA --responsável por mais de 820 mortes em sua campanha de violência em 40 anos-- declarou duas tréguas, mas ambas foram posteriormente levantadas.
O governo espanhol já tinha indicado que só negociaria com o grupo basco se este renunciasse à violência. A cúpula do Ministério do Interior da Espanha afirmou que está analisando o comunicado.
COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
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