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25/09/2010 - 08h27

ONG norte-americana resgata e protege acadêmicos perseguidos ao redor do mundo

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IZABELA MOI
DE SÃO PAULO

A iraniana Fatemeh Haghighatjoo, 42, professora universitária no Estado de Massachusetts, nos EUA, soube por sua mãe, na semana passada, que apesar de viver fora de seu país desde 2005, os jornais locais noticiaram um novo processo do governo aberto contra ela.

"Ainda não sei qual é a acusação, minha mãe não entendeu direito. Mas colocou um exemplar do jornal no correio. Quando chegar aqui, vou saber do que se trata", diz em entrevista à Folha por telefone.

Fatemeh foi parlamentar entre 2000 e 2004. Sem saída para continuar na vida política, defendeu sua tese de doutorado em psicologia.

Em setembro de 2005, quando recebeu uma resposta positiva de continuar sua pesquisa no MIT (Massachussets Institute of Technology), foi para os EUA.

Já em solo americano, descobriu a Scholars at Risk (SAR, ou "Pesquisadores em Perigo") e entrou em contato com a organização.

"Mais do que apoio logístico e financeiro, a SAR nos oferece apoio emocional, nos coloca em contato com pesquisadores do mundo inteiro", conta Fatemeh.

Hoje, ela tem posição permanente no departamento de estudos da mulher na Universidade de Boston, onde reside.

REDE DE UNIVERSIDADES

A organização nasceu como parte do programa de direitos humanos na Universidade de Chicago, em 1999.

Em 2004, mudou-se para sua atual sede, na Universidade de Nova York .

Sua missão primordial é proteger o trabalho intelectual, preservando a integridade física e mental e a liberdade de expressão de pesquisadores ao redor do mundo.

Mais de 200 universidades em mais de duas dezenas de países participam da rede como potenciais hospedeiras de pesquisadores.

Apesar da grande maioria (mais da metade) estar localizada nos EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá, Irlanda, Israel, Holanda e Noruega têm participação ativa na ação da rede e no "resgate" de professores.

Desde sua fundação, a SAR recebeu cerca de 2.000 pedidos de ajuda.

"Por ano, são cerca de 50 colocações temporárias, variando de três meses a um ano, que conseguimos efetivar", afirma em entrevista por telefone à Folha Sinead O'Gorman, diretora da organização desde 2007.

O'Gorman explica que os pesquisadores passam por uma classificação de "graus de ameaça" para que a assistência possa vir da maneira mais correta.

"Nosso sistema de checagem é rigoroso, porque não podemos nos transformar numa agência de colocação para esses profissionais. Avaliamos caso a caso", diz.

Segundo ela, os "resgates" são feitos temporariamente. "A SAR quer que esses professores possam voltar para suas universidades e continuar seu trabalho em seus países", diz.

Um dos fundadores, Irv Epstein, é professor na Universidade de Illinois Wesleyan, uma das primeiras a filiar-se à rede.

"Hospedamos por um ano um pesquisador vindo de Camarões e por dois anos um professor da Etiópia. É claro que a universidade-hospedeira também acaba oferecendo oportunidades em áreas onde tem interesse em desenvolver a pesquisa e o currículo. Nós estávamos procurando fortalecer nosso departamento de estudos africanos", disse.

PRESO NA CHEGADA

No final de agosto, mais um alerta foi enviado pela SAR a todos os participantes das redes e os que recebem a newsletter da organização.

Abdul Jalil al Singace, professor da Universidade do Bahrein, havia sido preso pelas autoridades locais no aeroporto internacional, quando chegava de uma viagem ao Reino Unido.

Não há acusação formalizada, mas a organização acredita que pode ter sido em razão de sua fala sobre a situação dos direitos humanos em seu país, durante uma sessão na Câmara dos Lordes britânica, no mês passado.

Além de professor de engenharia mecânica, Singace milita também em uma organização de direitos humanos (Movimento pela Democracia Liberdades Civis).

Singace não é o único. Do Iraque, uma professora de psiquiatria, entre muitos outros exemplos, procura atualmente um outro lugar para continuar seu trabalho.
Mas não há apenas histórias em suspense.

No relatório da SAR do início de setembro, seis pesquisadores haviam encontrado sua nova universidade, entre eles um pesquisador do Camboja na Brown University, nos EUA.

A Universidade de Toronto, no Canadá, anunciava a vinda de um professor de Ruanda para uma posição de visitante por um ano. E um professor de direito vindo da Ásia Central dirigia-se para a Universidade da Califórnia.

 

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