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10/12/2010 - 17h54

Países especulam que economia cubana pode desmoronar em dois anos, revela WikiLeaks

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A situação econômica em Cuba poderia se tornar insustentável em um prazo de dois ou três anos, segundo especulações de conselheiros comerciais de vários países, entre eles Brasil, Espanha, França, Itália e China, em comunicação com a diplomacia americana.

Segundo telegramas revelados nesta sexta-feira pelo jornal espanhol "El País" e fornecidos pelo site WikiLeaks, a crise financeira global e a impossibilidade de atender a sua enorme dívida externa levará a situação econômica cubana até limites que podem ser "fatais em dois ou três anos".

O telegrama foi escrito em fevereiro deste ano, meses antes do ditador Raúl Castro anunciar uma grande reforma econômica para desinchar a máquina estatal --que inclui a demissão de 500 mil funcionários e a expansão do setor privado para absorvê-los.

Os documentos detalham um café da manhã com representantes de dois dos credores de Cuba, concretamente França e Japão, e os conselheiros comerciais da China, Espanha, Itália, Canadá, Brasil.

"Todos os diplomatas concordaram que Cuba poderia sobreviver este ano sem mudanças políticas substanciais, mas a situação financeira pode se tornar fatal dentro de 2 ou 3 anos", diz o telegrama, acrescentando que os diplomatas italianos citaram fontes dentro do governo cubano prevendo que a ilha se tornaria "insolvente" no início de 2011.

Mesmo o diplomata chinês expressou o que o telegrama relata como "desespero visível". "Ele disse que os chineses estavam particularmente irritados com a insistência de Cuba em manter o controle majoritário".

"Não importa se uma empresa estrangeira investe US $ 10 milhões ou $ 100 milhões, o GDC (governo de Cuba) sempre irá controlar 51%", disse o conselheiro comercial chinês.

Os chineses também reclamaram de problemas para obter o pagamento de empréstimos e, em particular, do pedido de Cuba para estender de um ano a quatro anos o prazo para quitar seus débitos.

"El País" cita atribui ainda ao conselheiro chinês a frase que a rigidez econômica cubana é "uma dor de cabeça".

Os conselheiros explicam que Cuba poderia se ver obrigada a realizar reformas similares às efetuadas em uma situação quase de emergência do começo dos anos 90, quando a revolução cubana "quase quebrou", assinala o jornal.

Os papéis da diplomacia americana insistem também na crescente e negativa intervenção das Forças Armadas cubanas na economia em prejuízo da influência das empresas estatais.

"A economia cubana é progressivamente manuseada por engenheiros militares que são capazes de levar o dia a dia dos negócios, mas não têm a visão de promover reformas que tirem o país da desordem econômica e da economia centralizada", assinala Jonathan Farrar, chefe do Escritório de Interesses dos Estados Unidos em Havana, em suas declarações vazadas.

O governo cubano não se pronunciou sobre o vazamento, mas as revelações não devem ajudar as relações EUA-Cuba.

CRISE

Não é nenhum segredo que a situação financeira de Cuba é cada vez pior. O próprio Raúl Castro já advertiu que o Estado não pode continuar a subsidiar quase todas as famílias cubanas.

O governo oferece serviços gratuitos de saúde e educação, transporte quase livre, habitação e serviços. Todos os cubanos também recebem uma caderneta de racionamento que lhes fornece porções básicas de alimentos, embora não o suficiente para viver.

Isto não significa que a vida é tranquila para os cubanos, que em sua maioria recebem US$ 20 por mês, em um sistema dominado pela ineficiência estatal.

No entanto, o país sobreviveu ao colapso da União Soviética, que causou a quase falência de sua economia, assim como um embargo comercial de 48 anos dos EUA, a aposentadoria do líder revolucionário Fidel Castro, em 2006, e inúmeros outros solavancos ao longo do caminho.

O temor do telegrama de que o governo não faria reformas significativas foi desmentido pelas reformas de Raúl, consideradas as mais significativas em anos. Ainda assim, não está claro se será suficiente para salvar a economia fraca da ilha.

O telegrama classifica as tentativas de Cuba na reforma agrária e em outras áreas até aquele momento como ineficazes. O texto disse ainda que o país parecia determinado a dar mais controle sobre as empresas estatais para os militares, particularmente o ministro da Agricultura, Ulises Rosales del Toro, descrito como o general de mais confiança de Raúl Castro.

A especulação é que a situação pode piorar dramaticamente se houver problemas econômicos ou políticos que envolvam a principal aliada de Cuba, Venezuela, descrita como "cada vez mais instável". Cuba recebe bilhões de dólares de petróleo por ano da Venezuela a preços bastante subsidiados, em troca dos serviços dos médicos cubanos.

O diplomata francês na reunião diz que o país governado por Hugo Chávez "está em chamas" e "uma fonte de grave preocupação para Cuba".

"Há poucas perspectivas de reforma econômica em 2010, apesar da crise econômica que está prevista para começar ainda pior para Cuba nos próximos anos", diz o telegrama, citando especialistas em Cuba.

A conferência foi encerrada com uma crítica mordaz da liderança de um governo controlado pelo envelhecimento irmãos Fidel e Raúl Castro. A "direção e liderança permanecem confusas e imprecisas, em grande medida porque os seus líderes estão paralisados pelo medo de que as reformas irão afrouxar sua ligação com o poder, que eles têm mantido há mais de 50 anos".

 

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