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07/02/2011 - 22h22

Eleições imediatas seriam "complicadas" no Egito, dizem EUA

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Após a primeira reunião de gabinete dos ministros apontados por Hosni Mubarak, há 30 anos no poder no Egito, o Departamento de Estado dos EUA avaliou que eleições imediatas seriam uma "tarefa complicada" para o país, enquanto a Irmandade Muçulmana ameaçou deixar as negociações caso não haja resposta mais clara quanto à exigência de renúncia do ditador.

"Acho que seria uma tarefa complicada. Há muito o que se fazer para que o Egito chegue a um ponto no qual consiga realizar eleições livres e justas, seja para o Parlamento ou para Presidência", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Philip J. Crowley.

Quanto à posição de Washington referente à permanência do ditador no poder durante a transição, Crowley disse que cabe ao Egito decidir. "O papel do presidente Mubarak nisso é uma decisão dele e dos egípcios", assinalou.

Mesmo assim, deixou claro que os EUA devem pressionar. "Isso tem que ser um processo real. Temos certo sentido de urgência, não tanto quanto ao calendário, mas em relação ao processo em si", disse Crowley.

Os comentários chegam em meio ao 14º dia da crise egípcia, quando o governo buscou atenuar tensões ao estimular as negociações entre seu novo gabinete e a oposição e também anunciou um aumento de 15% nos salários públicos.

Embora tenham sido vistas como um "progresso no processo político" pelo presidente americano, Barack Obama, as medidas não foram suficientes para esvaziar a praça Tahrir, no centro do Cairo, onde os manifestantes continuam acampados e de onde não devem sair até que o ditador abandone o poder.

IRMANDADE MUÇULMANA

A oposição pleiteia uma reforma constitucional que leve a eleições livres e limpas, limite a quantidade de mandatos presidenciais, dissolva o Parlamento, permita a libertação de presos políticos e suspenda a lei de emergência.

"Estamos avaliando a situação. Vamos reconsiderar toda a questão do diálogo", disse Essam el Erian, dirigente da Irmandade Muçulmana. "Vamos reconsiderar segundo os resultados. Algumas das nossas exigências já foram atendidas, mas não houve resposta à nossa principal exigência, de que Mubarak saia."

O governo divulgou uma nota após a primeira rodada de reuniões, no domingo, dizendo que havia acordo sobre os rumos do processo, mas com poucas concessões à oposição.

A nota sugere que as reformas serão implementadas com Mubarak ainda no poder até setembro. Também impõe condições para a revogação da lei de emergência, que segundo a oposição é usada para reprimir dissidentes.

REUNIÃO

O ditador egípcio, Hosni Mubarak, tentou ganhar tempo frente aos protestos de rua contra seu regime, prometendo nesta segunda-feira aumentar o salário dos funcionários públicos em 15%.

Mubarak, 82, reuniu-se pela primeira vez com seu novo gabinete, enquanto o regime luta para fazer a economia mover-se novamente, apesar dos protestos por parte de ativistas pró-democracia que ocupam a principal praça do Cairo, no centro da cidade.

De acordo com a agência de notícias Mena, o gabinete aprovou um plano para aumentar o salário do setor público em 15% a partir de abril e gastar mais de US$ 940 milhões em aumentos nas aposentadorias.

Felipe Trueba/Efe
Manifestantes protestam em funeral simbólico na praça Tahrir de repórter morto por pró-governistas
Manifestantes protestam em funeral simbólico na praça Tahrir de repórter morto por pró-governistas

O aumento poderá reafirmar o apoio dos partidários de Mubarak ao regime, como membros da grande burocracia estatal e das forças de segurança, mas não havia sinais de que os manifestantes que já completam duas semanas na praça Tahrir cederiam.

Mubarak, que tem refutado pedidos pelo fim de seu governo, que já dura 30 anos, antes das eleições de setembro dizendo que sua renúncia poderia gerar o caos na nação mais populosa do mundo árabe, tem tentado se focar na restauração da ordem.

Manifestantes que permanecem no que se transformou um acampamento em plena praça Tahrir, no coração do Cairo, prometeram continuar os protestos até que Mubarak saia e esperam mais protestos em massa na terça-feira e na sexta-feira.

A banida Irmandade Muçulmana estava entre os grupos que se encontraram com o vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, no domingo --um sinal do quanto o status quo já foi alterado devido às manifestações que alarmou o mundo árabe e potências ocidentais.

Figuras da oposição afirmaram que pouco progresso foi feito nas conversações. Mas a oposição teve grandes ganhos nas últimas semanas.

Mubarak afirmou que não irá concorrer à reeleição, seu filho não tentará sucedê-lo, um vice-presidente foi nomeado pela primeira vez em 30 dias, a liderança do partido governante renunciou e o antigo gabinete foi demitido.

Talvez o mais importante, centenas de milhares de manifestantes agora tomam as ruas quase sem impunidade. Antes de 25 de janeiro, algumas centenas teriam enfrentado uma forte resposta da polícia.

14º DIA

Nesta segunda-feira, autoridades do Egito anunciaram a flexibilização do toque de recolher que foi implantado em 28 de janeiro em razão dos protestos pelo fim do regime do ditador do país, Hosni Mubarak.

Segundo a imprensa estatal, a imposição agora implementada das 20h às 6h; anteriormente, o toque de recolher começava às 19h.

Manifestantes antigoverno permanecem na praça Tahrir, centro do Cairo, e dizem que, apesar do diálogo iniciado entre governo e oposição no dia anterior, não sairão do local até que o ditador do país, Hosni Mubarak, deixe o poder.

Khaled El Fiqi/Efe
manifestantes egípcios antigoverno permanecem pelo 14º dia seguido na praça Tahrir, centro do Cairo
manifestantes egípcios antigoverno permanecem pelo 14º dia seguido na praça Tahrir, centro do Cairo

Mais de 2.000 pessoas acamparam na praça à noite, usando cobertores e barracas feitas de plástico. Alguns dormiram enquanto outros ficaram deitados sobre cobertores e ouviam músicas nacionais e revolucionárias que eram transmitidas de alto-falantes.

Os tanques blindados do Exército também serviram de cama para alguns manifestantes. Algumas barricadas ainda não foram desmanteladas e veículos incendiados não foram removidos.

Muitos dos jovens criticaram as negociações iniciadas no domingo entre o vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, e grupos da oposição --incluindo a Irmandade Muçulmana--, afirmando que elas são inaceitáveis. Os manifestantes prometeram continuar na praça Tahrir até que Mubarak deixe o poder.

"Não sairemos daqui até que ele saia. Sangue não foi derramado para se chegar a nada", afirmou o engenheiro de obras públicas Salah Ahmed Mohamed, sentado em uma das calçadas da praça que virou símbolo dos protestos contra o regime de Mubarak.

Mohamed disse acreditar que o ditador "não pode fazer em seis meses o que não fez em 30 anos". "Ele é o principal responsável pelo que ocorre no país."

Manifestantes sentaram em frente a tanques do exército nos arredores da praça, temendo que quaisquer movimentos dos militares poderiam ter como objetivo expulsá-los da praça.

Os ativistas também aumentaram as pressões fechando o acesso a Mugamma, o coração da burocracia egípcia, apesar de dezenas de pessoas tentarem ter acesso ao local para obter documentos como passaportes.

Em meio à tensão, manifestantes detiveram um homem que levava uma garrafa de gasolina nas mãos, na tentativa de colocar fogo no edifício, temendo serem apontados como culpados, e entregaram o homem às tropas que controlavam o acesso à praça.

OBAMA

O presidente dos EUA, Barack Obama, avaliou como "progresso político" o início de negociações entre governo e oposição no Egito, assim como a primeira reunião do novo gabinete, embora seus integrantes tenham sido apontados pelo ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder.

"Obviamente, o Egito precisa negociar um caminho, e eles estão fazendo progresso", disse à imprensa enquanto retornava à Casa Branca após um encontro com empresários.

Carolyn Kaster/AP
Desde o início da crise no Egito Washington reitera que não pode pedir renúncia imediata a Hosni Mubarak
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