Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/02/2011 - 23h19

Exército toma o poder no Egito após renúncia de ditador; multidão comemora nas ruas

Publicidade

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Após a renúncia do ditador Hosni Mubarak, que comandou o Egito durante 30 anos, milhares adentram a madrugada de comemorações na praça Tahrir, no centro do Cairo, enquanto aguardam novas medidas que devem ser anunciadas pelo Conselho Supremo das Forças Armadas, que agora está à frente do país.

Horas depois de anunciar a queda do regime na TV estatal, o vice-presidente, Omar Suleiman, não tem paradeiro conhecido, assim como Mubarak, que segundo estimativas estaria no balneário de Sharm el Sheikh.

Veja galeria de fotos da trajetória de Mubarak
Veja galeria de fotos das manifestações
Egípcios fazem "carnaval" para comemorar queda
Mubarak estava há 30 anos no poder; saiba mais

Nas ruas do Cairo, no resto do país e em diversas cidades do mundo milhares celebram o "dia de liberdade" no Egito, que após 18 dias de intensos protestos e mais de 300 mortos, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), viu-se livre do regime autoritário de Mubarak, que comandou por três décadas com mão de ferro e em meio a altas taxas de desemprego, corrupção e pobreza.

Líderes mundias saudaram os egípcios, e a revolução obteve grande repercussão internacional. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse que "a voz do povo egípcio, particularmente dos jovens, foi ouvida, e cabe a eles determinar o futuro do país", acrescentando se tratar de um "momento histórico".

###CRÉDITO###

No Reino Unido, o premiê, David Cameron, disse que país está diante agora de um "momento precioso, em que há a oportunidade de ter um governo que una todo o país" e reiterou que seu governo deve ajudar os egípcios.

O Brasil viu "com simpatia" o movimento. "Vemos, evidentemente, com muita simpatia, o fortalecimento de um movimento que tem um caráter democrático do ponto de vista político, social, porque põe em evidência a situação de setores postergados da população que querem mudar de vida e querem ter esperança", afirmou Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto.

Já o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o movimento por mais liberdade no Egito e em outros países árabes pode ser um estímulo para a construção da paz no restante da região.

EXÉRCITO

O Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito afirmou nesta sexta-feira que não pretende substituir "a legitimidade desejada pelo povo" egípcio e que irá anunciar em breve medidas para uma fase de transição no país.

A afirmação foi feita em breve comunicado na emissora de TV estatal, horas depois de o vice-presidente do país, Omar Suleiman, ter anunciado a renúncia do ditador Hosni Mubarak, que ficou 30 anos no poder.

Na nota, a cúpula militar, que comandará a transição até realização de eleições, elogia ainda a saída de Mubarak, dizendo que a medida está de acordo com "os interesses do país". Os militares também saudaram os "mártires que perderam suas vidas" durante os violentos confrontos e protestos, que entraram hoje no 18º dia.

Tara Todras-Whitehill/AP
Egípcios celebram o anúncio de que o ditador do país, Hosni Mubarak, renunciou ao poder após 30 anos
Egípcios celebram o anúncio de que o ditador do país, Hosni Mubarak, renunciou ao poder após 30 anos

"Sabemos a extensão da gravidade e da seriedade desse assunto e as demandas do povo para iniciar mudanças radicais", dizia o texto. "O Conselho Supremo das Forças Armadas está estudando o tema para atingir as esperanças de nosso grande povo."

"O conselho irá soltar um comunicado detalhando os passos e procedimentos e diretivas que serão tomadas, confirmando ao mesmo tempo que não há nenhuma alternativa para a legitimidade aceitável pelo povo."

Na nota, o conselho também cumprimentou Mubarak "por tudo o que deu ao país em tempos de guerra e paz, e por seu patriotismo, priorizando os mais altos interesses da nação".

Mohammed Abed/AFP
Garoto egípcio beija soldado após renúncia de Mubarak; Exército elogia medida e promete mediar transição
Garoto egípcio beija soldado após renúncia de Mubarak; Exército elogia medida e promete mediar transição

NOVO LÍDER

O ministro de Defesa do Egito, Mohamed Hussein Tantawi, deve ser o novo chefe de governo. Segundo a agência de notícias Reuters, que cita fontes militares, Tantawi é o chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas, a quem Mubarak entregou a administração do país.

Ele fez um tour pela área do palácio presidencial que pertencia a Mubarak nesta sexta-feira, de acordo com a rede de TV Al Arabyia.

Anteriormente, o vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, anunciou a saída do ditador e disse que o poder foi entregue às Forças Armadas. "O presidente Hosni Mubarak decidir renunciar como presidente do Egito", disse Suleiman, em um breve anúncio, acrescentando que a decisão foi tomada diante das "difíceis circunstâncias pelas quais o país passa".

Autoridades dos Estados Unidos veem Tantawi como um aliado empenhado em evitar uma nova guerra contra Israel, mas no passado o criticaram reservadamente por ser resistente a mudanças políticas e econômicas. Ele conversou por telefone em cinco ocasiões com o secretário americano de Defesa, Robert Gates, desde o início da crise, em 25 de janeiro. A última conversa ocorreu nesta quinta-feira à noite.

Master Sgt. Jerry Morrison/AP
O ministro egípcio da defesa Mohamed Hussein Tantawi (à esq.); ele deve chefiar governo egípcio, diz agência
O ministro egípcio da defesa Mohamed Hussein Tantawi (à esq.); ele deve chefiar governo egípcio, diz agência

As relações com o Exército egípcio são tradicionais e importantes para Washington, que fornece cerca de US$ 1,3 bilhão por ano em ajuda militar ao país.

Fontes do Pentágono se mantêm mudas a respeito das discussões entre Tantawi e Gates, mas o secretário de Defesa tem feito elogios públicos aos militares egípcios por serem uma força estabilizadora em meio à crise. Na terça-feira, Gates disse que os militares do Egito haviam dado "uma contribuição à democracia".

Mas, reservadamente, autoridades dos EUA caracterizam Tantawi como alguém "relutante com mudanças" e desconfortável com a ênfase americana no combate ao terrorismo, segundo um documento de 2008 do Departamento de Estado, divulgado pelo site WikiLeaks.

Tantawi, 75, serviu em três conflitos contra Israel - na crise de Suez, em 1956, e nas guerras de 1967 e 73.

O comunicado interno do Departamento de Estado dizia que o comandante estava "comprometido em prevenir que outra [guerra] aconteça um dia".

Apesar disso, diplomatas alertaram, antes de uma visita dele a Washington em 2008, que as autoridades dos EUA deveriam se preparar para encontrar "um Tantawi envelhecido e resistente a mudanças".

"Charmoso e cortês, ele está, não obstante, preso a um paradigma militar pós-Camp David, que tem servido aos estreitos interesses da sua corte nas últimas três décadas", dizia o documento, referindo-se ao acordo de paz entre Egito e Israel, assinado em 1979 na residência de veraneio da Presidência americana.

Washington há muito tempo cobrava mudanças no Cairo. Mas o documento afirma que Tantawi "tem se oposto tanto às reformas econômicas quanto políticas, as quais ele percebe como uma erosão do poder do governo central".

FESTA NAS RUAS

O anúncio -- feito no 18º dia seguido de intensos e violentos protestos que tomaram diversas cidades do Egito-- foi recebido com gritos de comemoração, cantos e bandeiras sendo agitadas na praça Tahrir, centro do Cairo, que foi o epicentro dos protestos públicos contra o regime de Mubarak, que estava no poder desde 1981.

Dylan Martinez /Reuters
Criança levanta os braços em comemoração pela renúncia de Mubarak na praça Tahrir, centro do Cairo
Criança levanta os braços em comemoração pela renúncia de Mubarak na praça Tahrir, centro do Cairo

A renúncia ocorre menos de 24 horas depois de fortes rumores de sua saída imediata do poder. Na noite de quinta-feira, Mubarak discursou à nação e disse que passava parte de seu poder a Suleiman, mas permaneceria até setembro --quando estão previstas eleições presidenciais. O discurso de "fico" causou fúria nos manifestantes que marcharam em direção ao Palácio Presidencial aos gritos para que deixasse o poder.

Mais cedo, o porta-voz do partido de Mubarak havia confirmado que o mandatário e sua família viajaram para o balneário de Sharm el-Sheikh, no mar Vermelho. "Ele está em Sharm el-Sheikh", afirmou Mohammed Abdellah, do Partido Nacional Democrático.

Pouco antes, fontes ligadas ao governo informaram que Mubarak e a família haviam deixado o Cairo nesta sexta-feira, mas sem deixar claro qual era o destino.

Os violentos protestos registrados no Egito por mais de duas semanas registraram quase 300 mortes, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), além da morte de jornalistas e diversos ataques à imprensa.

Iniciadas no Cairo, as manifestações se espalharam por outras cidades, como Alexandria e Suez.

O Exército teve um papel crucial desde o início da crise, por vezes apoiando a população mas em algumas ocasiões também abrindo fogo contra os manifestantes.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página