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17/02/2011 - 10h19

Exército do Bahrein assume capital para assegurar ordem

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O Exército do Bahrein informou nesta quinta-feira que assumiu o controle da maior parte da capital do país do golfo Pérsico, Manama, e que os protestos na cidade estão proibidos. O anúncio foi feito após o governo ter decretado estado de emergência em todo o país para tentar aplacar os protestos da população xiita que, há quatro dias, pede nas ruas por reformas de segurança.

O anúncio, feito na TV estatal bareinita por um porta-voz do Ministério do Interior, informou ainda que o Exército irá tomar todas as ações necessárias para garantir a segurança e está ordenando a população a evitar áreas centrais de Manama, a capital do país do golfo Pérsico.

"As forças de segurança reforçaram que irão tomar todas as medidas estritas e dissuasão necessárias para preservar a segurança e a ordem geral", afirmou um porta-voz do ministério na TV.

Mazen Mahdi/Efe
Policiais chegam à praça Pearl, no centro de Manama, de madrugada para expulsar manifestantes antigoverno
Policiais chegam à praça Pearl, no centro de Manama, de madrugada para expulsar manifestantes antigoverno

O porta-voz disse ainda que as forças de defesa também velam pela "manutenção da liberdade" e pela defesa das propriedades.

Na madrugada desta quinta-feira, forças de segurança invadiram sem aviso prévio a praça Pearl, com o apoio de tanques e veículos blindados, para expulsar com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha milhares de manifestantes antigoverno.

Ao menos quatro pessoas morreram e cem ficaram feridas, elevando a seis o número de mortos durante quatro dias de protestos. O parlamentar xiita de oposição Ibrahim Mattar disse que cerca de 60 pessoas estão desaparecidas após a operação das forças de segurança.

A polícia mantém cercada a praça Pearl, apoiada por blindados do Exército. Segundo autoridades, um total de 50 policiais ficaram feridos nos confrontos com os manifestantes. Destes, 27 estão em estado grave e dois em estado muito grave.

Milhares de manifestantes xiitas saíram às ruas do país nesta semana pedindo reformas políticas e melhorias econômicas no país, onde uma família de muçulmanos sunitas governa uma população que é majoritariamente xiita.

Centenas de pessoas acamparam na praça Pearl, um cruzamento na capital que eles pretendiam transformar em base dos protestos como aconteceu com a praça Tahrir, no Cairo, que levou à renúncia do ditador egípcio, Hosni Mubarak, na última sexta-feira.

Mas a praça bareinita estava praticamente vazia no início desta manhã, depois de a polícia ter invadido o local, que estava cheio de barracas abandonas, cobertores e lixo, O cheiro de gás lacrimogêneo pairava no ar.

"Eu estava lá. Os homens estavam correndo, mas as mulheres e as crianças não podiam correr tão facilmente", disse o parlamentar Mattar.

Mahmoud Mansouri, um manifestante, disse que a polícia cercou a praça e então, rapidamente, a invadiu. "Gritamos 'estamos em paz! Paz!'. Mulheres e crianças foram atacadas como o resto de nós", contou. "Eles se moveram assim que a imprensa nos deixou. Eles sabiam o que estavam fazendo."

O médico Sadek Akikri, 44, disse que estava atendendo manifestantes em uma tenda improvisada quando a polícia a invadiu. Ele contou ter sido amarrado e espancado.

Tony Mitchell/AP
Imagem de vídeo mostra veículos blindados seguindo para a praça Pearl, em Manama, ocupada por manifestantes
Imagem de vídeo mostra veículos blindados seguindo para a praça Pearl, em Manama, ocupada por manifestantes

"Eles estavam me espancando tão forte que eu não podia mais ver. Tinha muito sangue escorrendo da minha cabeça", contou.

AO ESTILO EGÍPCIO

Os manifestantes começaram a acampar no local na última terça-feira, debaixo de um monumento de 90 metros representando uma pérola gigante (pearl, em inglês, significa pérola), fazendo da praça o centro nervoso dos primeiros protestos antigoverno que atingiram o golfo Pérsico desde as revoltas populares na Tunísia e no Egito.

O Parlamento do Bahrein se reuniu em uma sessão de emergência. Um membro pró-governo, Jamila Salman, derramou lágrimas.

Muitas famílias foram separadas no caos. Um fotógrafo da Associated Press viu policiais reunindo crianças perdidas e as levando para veículos.

O correspondente da rede americana ABC News, Miguel Marquez, foi apanhado no meio da multidão e espancado por homens que levavam cassetetes. No entanto, ele não teve ferimentos graves.

Funcionários de hospitais, falando sob condição de anonimato porque não estavam autorizados a conversar com a imprensa, afirmaram que quatro pessoas foram mortas nesta terça-feira. O número de feridos chega a dezenas --o espanhol "El País" cita 300.

Choques esporádicos entre policiais e manifestantes continuaram pela manhã, com antigovernistas jogando pedras e depois recuando. Um grupo de jovens homens quebrou o pavimento para conseguir mais pedras.

Um corpo coberto com um lençol branco estava em meio a uma poça de sangue em uma rua localizada a 20 metros da praça.

Tanques e veículos blindados eram vistos em algumas ruas --o primeiro sinal de envolvimento militar na crise-- e autoridades enviaram uma mensagem de texto para telefones celulares que dizia: 'O Ministério do Interior alerta todos os cidadãos e residentes para não saírem de casa devido a conflito potencial em todas as áreas do Bahrein'.

INÍCIO

Os protestos no Bahrein começaram na última segunda-feira como um pedido para que a monarquia sunita que comanda o país afrouxe o controle, incluindo não indicar mais pessoas para os cargos governamentais mais altos e abrir mais oportunidades para a população xiita, que é maioria no país e há muito reclama de ser excluída do processo de tomada de decisões.

Joseph Eid/AFP
Forças de segurança do Bahrein, ao fundo, fazem guarda na praça Pearl após a expulsão de manifestantes
Forças de segurança do Bahrein, ao fundo, fazem guarda na praça Pearl após a expulsão de manifestantes

Mas as demandas rapidamente ficaram maiores. Muitos manifestantes pedem que o governo ofereça mais empregos, melhores moradias e liberte todos os prisioneiros políticos. Eles também gritam frases contra a monarquia que tem liderado o Bahrein por mais de 200 anos.

Chamados feitos por meio de redes sociais na internet pressionam para que a população leve adiante os protestos, além de estarem cheias de insultos por parte de supostos partidários do governo que chamam os manifestantes de traidores e de agentes do xiita Irã.

O líder do maior bloco político xiita, xeque Ali Salman, afirmou que não há pedidos por um papel do islã na política. "Não estamos buscando um governo religioso como o do Irã, mas queremos um governo civil que represente xiitas e sunitas", afirmou em uma entrevista coletiva.

O grupo, o Al Wefaq, tem 18 cadeiras em um Parlamento composto por 40, mas boicotou a Casa em protesto pela violência contra os manifestantes.

 

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