Leitores debatem tratamento psicanalítico do autismo
Considero de extrema relevância que um veículo como esse possa abrir espaço para o debate de ideias no campo científico em torno da questão do Autismo, e, sobretudo que isso se dê no tempo em que se discute a implementação de uma rede de atenção a pessoa com autismo como política nacional.
A longa experiência da psicanálise nesta clínica demonstra a cada dia que neste campo só temos podido avançar por via da interdisciplinaridade.
As formulações da ciência médica acerca da plasticidade neuronal e da epigenética, por exemplo, situam de modo vigoroso a importância --também confirmada pela clínica psicanalítica-- de que as intervenções clínicas sejam realizadas desde que os primeiros indícios de vulnerabilidade e risco de sofrimento psíquico são descobertos. Para tanto, o amplo debate deve ser sustentado no campo científico e a população deve ser legitimamente informada de maneira a garantir o direito de escolha sobre o modo de tratar seus filhos.
ILANA KATZ, PSICANALISTA (São Paulo, SP)
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A carta do leitor Luis Celso Vilanova, do dia 14/09, é mais uma das inúmeras tentativas de desqualificar a psicanálise como uma linha da abordagem das pessoas com autismo. Ele não apresenta nenhum critério clínico ou teórico para refutar os argumentos apresentados pelo artigo de Nilde Jacob Parada Franch.
O leitor parece desconhecer as inúmeras publicações psicanalíticas sobre o tema e o consenso internacional sobre o benefício produzido por tratamentos que consideram como questão central a subjetividade e intervém na ampliação das possibilidades de circulação familiar, escolar, social e cultural dessas pessoas.
No Brasil, o Movimento Psicanálise Autismo Saúde Pública (MPASP) conta hoje com 500 profissionais representando 100 instituições, entre as quais se encontram as mais prestigiadas universidades do país, instituições psicanalíticas de diferentes filiações teóricas e organizações não governamentais. Seus integrantes atendem, pesquisam e teorizam sobre essa clínica e estão abertos para o diálogo interdisciplinar que a complexidade desses casos requer. Precisamos pensar em benefício dos pacientes e suas famílias no lugar de defender interesses corporativos transvestidos de argumentos científicos.
ADELA STOPPEL DE GUELLER, Professora de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae (SÃO PAULO, SP)
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O autismo não é propriedade privada de nenhuma área de conhecimento e está no processo civilizatório com todo seu "mal-estar". E a Psicanálise não abre mão de incluí-lo nas suas perspectivas teóricas, metodológicas, clínica e políticas.
Será que 'não cai a ficha' de alguns profissionais da Saúde? A Psicanálise já foi absorvida pela cultura. Isso não está mais em discussão. E, por isso mesmo, ela não pode excluir a pessoa com autismo, assim como a educação, a saúde e a política não o fazem. Essas áreas estão se virando, cada uma a seu modo, para fazer as crianças e adolescentes responderem aos seus tratamentos. É isso que está em jogo e não a desqualificação de uma ou outra área.
MARIA NOEMI DE ARAUJO, DOUTORA EM EDUCAÇÃO E PSICANÁLISE (SÃO PAULO, SP)
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