Vida de uma criança autista e de seus pais não é fácil, afirma leitora
O texto intitulado "O autismo na era da indignação", fundamentado na experiência de quem vive "na carne", como se diz, a questão do autismo, reflete bem a discussão atual sobre como e quem está apto a tratar essas crianças e adolescentes que, por muito tempo, ficaram confinadas em tratamentos rígidos e inúteis.
Leitores comentam artigo de Luiz Fernando Vianna sobre o autismo
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A vida de uma criança autista e de seus pais não é fácil. Além de lidarem com as dificuldades inerentes ao problema em si, têm que se deparar com uma sorte de preconceitos e desconhecimentos dos que estão em seu entorno.
Luiz Fernando Vianna, como pai, não teve a sorte de um bom encontro com um psicanalista que, antes de tudo, precisa estar atento à angústia que suscita aos pais a notícia de um diagnóstico de autismo. Tão pouco teve sorte com outro profissional de outra abordagem.
Assinalo, entretanto, que, independentemente dessa querela, a psicanálise é um corpo teórico que avançou muito, desde os estragos que os pós-freudianos fizeram nos ensinamentos de Freud. Com Jacques Lacan ela pode ser revisitada, criticada e ampliada, e isso porque ela carrega em seu bojo, graças ao seu "pai", uma revisão constante de sua prática e dos preconceitos que podem advir de um psicanalista.
Os psicanalistas, pelo menos os lacanianos, aprendem que não só o cotidiano de sua clínica, mas também as questões do mundo contemporâneo fazem buraco no seu fazer e na teoria que o fundamenta.
Essa discussão lançada pelos pais das crianças diagnosticadas de autismo tem sido muito bem recebida pela comunidade psicanalítica lacaniana, tanto no Brasil e outros países, como na França, porque permite que se questione a clínica e o saber-fazer da psicanálise.
Gabo Morales - 14.jan.2013/Folhapress | ||
Detalhe de quadro de atividades de criança de 10 anos diagnosticada com autismo aos 15 meses, em SP |
Se um documentário como "O muro", de Sophie Robert, foi duramente criticado pelos psicanalistas envolvidos nele, talvez seja porque se sentiram indignados de verem seus nomes envolvidos numa crítica injustamente feita a uma prática que, ao contrário de muitas, porta em seu seio mesmo a possibilidade que todo ser humano tem de advir como sujeito no mundo, de ter a sua singularidade subjetiva respeitada e acolhida e de ser tratado como alguém que tem desejos e gostos próprios.
O tratamento psicanalítico visa o singular do sujeito autista que, como qualquer sujeito, tem que inventar sua forma particular de fazer laços sociais, assim como fizeram Carly (Carly Fleischmann, adolescente canadense) e Temple (Temple Grandin, norte-americana).
Não se trata de uma adaptação comportamental ao meio em que vivem, mas de encontrarem um "savoir y faire", como costumamos dizer, com o seu impedimento. Carly e Temple são exemplos de que, para além de suas capacidades cognitivas e afetivas, o sujeito é sempre responsável pelas vicissitudes de sua vida, qualquer que seja o diagnóstico que receba ou sua história de vida. A psicanálise ensina a todos os sujeitos, e os pais também são sujeitos, que ser responsável é muito diferente de ser culpado e que, na verdade, é justamente o oposto.
Eneida Medeiros Santos é psicanalista.
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