'Dispensamos voto de quem pratica violência', diz Jair Bolsonaro

Foi a 1ª vez que o candidato do PSL adotou postura mais contundente contra os casos de violência registrados

Talita Fernandes
Rio de Janeiro

Após registros de atos de violência pelo país cometidos por seus apoiadores, Jair Bolsonaro (PSL) divulgou mensagem em rede social nesta quarta-feira (10) afirmando que "dispensa voto 
de quem pratica violência".

"Dispensamos voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim. A este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição por coerência, e que as autoridades tomem as medidas cabíveis, assim como contra caluniadores que tentam nos prejudicar”, escreveu o presidenciável em sua conta no Twitter.

Jair Bolsonaro durante entrevista, nesta terça (9), após gravação do seu programa eleitoral para o segundo turno - Ricardo Borges/folhapress

Esta foi a primeira vez que Bolsonaro adotou postura mais contundente contra os casos de violência registrados desde o primeiro turno.

Poucos minutos depois, porém, o candidato do PSL publicou outra mensagem, na qual acusou pessoas de "forjarem agressões" para culpá-lo.

"Há também um movimento orquestrado forjando agressões para prejudicar nossa campanha nos ligando a nazismo, que, assim como o comunismo, repudiamos completamente. Trata-se de mais uma das tantas mentiras que espalham ao meu respeito. Admiramos e respeitamos Israel e seu povo”, afirmou.

Na noite de terça-feira (9), Bolsonaro se mostrou irritado ao ser questionado por jornalistas sobre casos de agressão cometida por apoiadores.

Antes de responder, indagou se a pergunta não deveria ser invertida, e lembrou que ele foi alvo de uma facada em Juiz de Fora (MG) no dia 6 de setembro. Na sequência, o presidenciável do PSL disse lamentar os atos de violência, mas afirmou que não tinha como controlar seus apoiadores.

Um dos casos emblemáticos de violência ocorreu na madrugada de segunda-feira (8), quando o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, 63, conhecido como Moa do Katendê, foi morto a facadas após discussão política em Salvador.

O capoeirista defendeu o voto em Fernando Haddad (PT) enquanto o agressor, aos gritos, defendia o apoio a Bolsonaro. Ele confessou o crime e disse estar arrependido.

Na noite de segunda, no centro de São Paulo, o professor Gilberto de Mattos, 53, apoiador de Bolsonaro, ficou ferido após briga com pessoas contrárias ao candidato do PSL. O caso teria sido antecedido de gritos de #EleNão e #EleSim entre os envolvidos.

Na noite seguinte (9), um estudante foi agredido por um grupo em frente à reitoria da UFPR (Universidade Federal do Paraná), em Curitiba. Segundo a universidade, o ato tinha “motivação política aparente”, porque a vítima estava com um boné do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e os agressores gritavam Bolsonaro.

Em Porto Alegre, uma mulher de 19 anos disse ter sido agredida na segunda-feira por três homens que teriam feito uma suástica na barriga dela com um canivete. A motivação, disse ela, seria pelo fato de usar uma camiseta com a inscrição #EleNão, que mostra oposição ao candidato do PSL à Presidência da República.

O caso, porém, ainda suscita dúvidas. O delegado Paulo César Jardim, que acompanha o caso, afirmou ao jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, que a jovem desistiu de fazer representação criminal e que, por isso, a investigação não vai prosseguir. Ele também disse que a marca na vítima é de um símbolo budista, e não de uma suástica.

A reportagem não conseguiu contato com a jovem que relatou ter sido agredida.

Em agosto, uma funcionária da campanha do candidato à Presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos, afirmou ter sido ameaçada com um revólver por um apoiador de Bolsonaro.

Episódios de violência também atingiram jornalistas envolvidos na cobertura eleitoral. Só neste ano, segundo levantamento da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), foram registrados 137 casos, entre agressões físicas e intimidações e assédio nas redes sociais.

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